E o badalar dos sinos voltou para a alegria dos fiéis. E como ficamos alegres! Como não ouvir os sinos? Como não acompanhar o soar das horas? E como as horas hão de soar se os sinos não repicarem? Como poderei explicar para Santo Afonso de Ligório que por aqui houveram por mal silenciarem os sinos? O soar das horas! O santo nos ensinou a rezar ao soar das horas: “Jesus, eu vos amo. Não permitais que me separe de Vós.” Cada vez que eu ouvia o badalar, eu rezava, Deus me chamava. Não se trata de olhar o relógio, mas de ouvir as horas. Os sinos sempre estiveram presentes em nossas vidas, anunciando as horas, anunciando a morte de alguém, ou a proximidade da hora da missa. Os sinos de uma igreja fazem parte de nossa vida.
Em Pedralva os sinos não só badalavam e avisavam os fiéis, como o Padre Sebastião ainda colocava no alto-falante da igreja a música clássica “Air on the G.String” (Bach), como um triste aviso da morte de um fiel. Todos na cidade paravam o que estavam fazendo e elevavam os olhos para o Céu, fazendo uma pequena prece para quem partia, como para quem ficava em sua dor. Mas o alto-falante também tocava músicas alegres, muitas músicas clássicas. Crescemos brincando no jardim e ouvindo os clássicos tocados na igreja, sem saber que eram clássicos. Faziam parte de nossa vida.
Assim como os sinos têm um significado místico, religioso, também têm seu papel na cultura de um povo. Ah, como os sinos e as músicas clássicas nos enlevam e inspiram. Que se calem as motos barulhentas, as propagandas de comércio no último volume do mundo! Mas não ousem calar os sinos. Eles revidarão e repicarão.
Fica aqui registrada minha alegria com o retorno dos sinos. Nem tudo está perdido.
Por Misa Ferreira, autora dos livros: Demência: o resgate da ternura, Santas Mentiras, Dois anjos e uma menina, Estranho espelho e outros contos, Asas por um dia e Na casa de minha avó. Graduada em Letras e pós graduada em Literatura. Premiada várias vezes em seus contos e crônicas.Embaixadora da Esperança (Ambassadors of Hope) com sede em Calcutá na India. A única escritora/embaixadora do Brasil a integrar o Projeto Wallowbooks. Desde 2009 Misa é articulista do Conexão Itajubá, enviando crônicas e poemas. Também contribui para o jornal “O Centenário” de Pedralva