Lendo as Cartas de São Paulo, surgiram algumas dúvidas e resolvi pedir ajuda a um sacerdote formador na capital paulista. Eis um resumo do diálogo que mantivemos pela internet:
1– Padre, enfocando o exemplo de humildade de Cristo – Filipenses 2, 6-11 –, cremos que Jesus abdicou de sua condição Divina e se fez escravo igual a qualquer um de nós, porém, muito mais obediente, certo? Por isso, Deus o exaltou acima de tudo; mas, Jesus poderia ter optado em se favorecer mais de sua divindade e ter sofrido menos, ou seus passos já estavam todos predestinados?
2– Querido Paulo, como homem, Jesus deveria seguir o percurso normal de toda existência humana. Quanto ao sofrimento de Cristo, não há predestinação nenhuma. Deus não envia seu Filho para ser crucificado. Ele ama o Filho. A cruz entra na vida de Jesus como oposição ao Reino. Jesus vai percebendo aos poucos que sua pregação está incomodando e que seu fim não seria bom, mas fiel aos planos do Pai em revelar seu desígnio amoroso, Ele vai em frente. Chega a ter medo da morte no Jardim das Oliveiras e grita ao Pai na cruz. Sente-se abandonado. O abandono total é a descida entre os mortos, isto é, Ele viveu em tudo a condição humana, chegando até à própria morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou e lhe deu um nome. Acreditamos num Deus solidário até à morte, fim de todos nós.
1– Está claro que Deus enviou seu Filho para remir os que eram sujeitos à Lei – Gálatas 4, 4-5 –, mas, Jesus morreria na cruz se um só de nós não fosse por Ele resgatado? É correto afirmar que se, por exemplo, apenas Pôncio Pilatos o condenasse, Ele ‘aceitaria’ a cruz?
2– Jesus vai livremente para a morte de cruz porque é o Bom Pastor que dá a vida pelo rebanho. Ele é a face do Pai revelada ao mundo. Mesmo que houvesse um só pecador, Ele morreria na cruz, pois uma só pessoa vale por mil no pensamento de Deus. Não se pode comparar o amor de Deus com o amor humano. Seu amor ultrapassa todos os limites. Assim como Ele é eterno, seu amor também é eterno. Quanto a Pilatos, ele, como autoridade de Roma, foi quem condenou Jesus. É bom saber que houve dois julgamentos: político e religioso. “Ele quer se fazer Rei” e “Ele se diz Filho de Deus”. Tanto o político como o religioso pesaram na balança.
Há muita ‘lógica’ nas respostas, mas isso só fica claro após as conclusões teológicas. É, quem sabe, sabe! Mas como todas as demais, essa sabedoria começou com o primeiro Sacerdote. Leia esta história:
Certo dia, Jesus bateu à porta da casa de um jovem e pediu para entrar. Imediatamente, o rapaz o conduziu à cozinha e sugeriu que se sentasse num banquinho, perto de um crucifixo na parede. Mal começaram a conversar e ouviram batidas fortes na porta da sala. O moço pediu licença ao Mestre e foi atender.
Quando viu pelo olho mágico que o diabo estava lá fora, ficou em silêncio para que ele pensasse que não havia ninguém em casa; e, antes de voltar à cozinha, aproveitou para esconder na gaveta uma fita de filme pornográfico que se encontrava sobre a mesa.
Poucos minutos se passaram e as batidas voltaram a acontecer, agora na janela do quarto. Assim que o jovem lá chegou, viu que o demônio já estava entrando e, desesperado, conseguiu colocá-lo para fora. Retirou, então, o pôster de uma mulher nua da parede e o escondeu debaixo da cama.
E, em pouco tempo, tudo se repetiu no banheiro. O rapaz, fechando os vidros, falou baixinho para o capeta: ‘Agora não! Volte mais tarde’. Jogou no lixo algumas revistas de sexo e voltou para junto de Deus; mas a campainha tocou e Jesus pediu para deixá-lo atender. Quando Satanás o viu, foi logo dizendo: ‘Desculpe, foi engano’. Então, o jovem perguntou: ‘Cristo, por que ele não nos deixa em paz?’ E a voz de Deus ecoou em tom suave: ‘É porque você só me deu a cozinha nesta casa. Todo o resto é dele!’
Portanto, se os palavrões estão em nossa boca, se o pecado está em nossa mente, se a violência é o melhor recurso de nossos braços e a preguiça impede nossas pernas de caminhar até os pobres, Jesus nunca será o dono do nosso coração.
No jantar em Betânia (Mt 26, 6-13), quando uma mulher derramou perfume caro na cabeça do Filho de Deus, Ele falou aos discípulos: “É uma ação boa o que ela me fez. Pobres, vós tereis sempre convosco. A mim, porém, nem sempre me tereis”. Mesmo sabendo disso, o jovem da história que contei não estava preparado para dar atenção a Jesus. E você, quando se encontra com Ele, aproveita ao máximo o momento da graça ou acaba atendendo os chamados da tentação?
Ø Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG).