Para mim, a Semana Santa deste ano veio recheada de compromissos. Pelo fato de eu só ter sido escalado para cantar no domingo de Páscoa – nos anos anteriores a agenda ficava lotada -, deixei meu coração disponível para comungar com os irmãos. Foi muito bom ficar no meio do povo desfrutando com atenção cada momento das celebrações.
Missas, procissões, adorações, tudo muito bonito! E como disse o Padre Maristelo: “Se servimos mal, mostramos que somos servos inúteis; se servimos bem, não fizemos mais que nossa obrigação. O amor que Deus tem por nós é muito maior do que toda dedicação que prestamos a Ele. Mesmo não aceitando Isaac de oferenda – filho de Abraão -, Deus Pai entregou seu Filho amado em sacrifício para nos salvar”.
Valeu a pena reservar um tempo maior ao Senhor e sentir o amor que Ele tem por nós. Sua Palavra ressoou mais forte em nossas vidas e tenho certeza que novos frutos virão. Não servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro, foi uma mensagem muito importante desta Campanha da Fraternidade. Teremos subsídios de sobra para refletir neste tema em nossas pastorais – para caminhar na partilha e na fraternidade. Nunca podemos desanimar da felicidade compartilhada, ao contrário desta história:
Um rapaz pediu a Jesus um emprego e uma mulher que o amasse. No dia seguinte, abriu o jornal e tinha um anúncio de emprego. Ele foi ao local, viu a fila muito grande e disse: ‘Eles são melhores do que eu’; e foi embora.
No caminho, um garoto lhe deu uma rosa, mas no ônibus, chateado com a vida que levava, jogou a flor pela janela. Ao chegar em casa, brigou com Jesus: ‘É assim que me tratas? É assim que me amas?’. E foi dormir.
Em sonho, Jesus lhe disse: ‘O emprego era seu, mas você não confiou e desistiu antes mesmo de lutar. A rosa, inspirei aquela criança a lhe dar. O amor da sua vida sentou ao seu lado no ônibus, mas, em vez de lhe dar a flor, jogou-a fora’.
Pois é, Jesus abre as portas e mostra o caminho, porém, se sua fé é pequena e você desiste nos primeiros obstáculos, eles continuam impedindo sua caminhada para a felicidade. E quem já foi feliz sabe que as boas recordações e muitas orações ajudam na perseverança.
Recebi um e-mail do amigo Inácio Costa, comentando que o texto abaixo é do professor José Antônio, da Universidade Federal de São João del-Rei. Veja se faz você recordar alguns momentos felizes que viveu:
“Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Ninguém avisava nada, o costume era chegar de pára-quedas mesmo. E os donos da casa nos recebiam alegres e iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a dos meus irmãos. Aí chegava outro menino e repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro… casa singela e acolhedora.
Também eram assim as visitas: singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite… Juntava todo mundo, as piadas pipocavam e as gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança. Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida.
Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa. A mesma alegria se repetia e, quando iam embora, também ficávamos à porta. Olhávamos, olhávamos, até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail… Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa.
– Vamos marcar uma saída?
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores. Casas trancadas – pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos, do leite… Que saudade do compadre e da comadre!”
Sou testemunha que tudo isso é verdade, mas, graças a Deus , as procissões ainda existem!