Alegam que se o salário mínimo subir pelo menos o mínimo para ser justo e digno, pode ser perigoso para o país. Sustentam que assim a nação ficaria quebrada, com as contas públicas desorganizadas, risco de inflação, demissões e outras calamidades. Afinal, explicam, trata-se de milhões e milhões de trabalhadores. Por outro lado, o “reajuste” de 61,8% no salário dos políticos, concedido por eles mesmos a eles mesmos, não causa receio de qualquer espécie aos nossos representantes, pois justificam que totalizam apenas algumas centenas, sem contar, é claro, as outras centenas de centenas de cargos ligados a eles, ocupados, evidentemente pelos filhos, mães, avós, tios, sobrinhos e amigos o que, somados, assim por baixo, representam em sua totalidade, não alguns, mas muitos milhões de sanguessugas .
Para o fabuloso aumento dos políticos, nunca há nada que se oponha. Tudo é feito da forma mais natural, na calada do dia mesmo (o trocadilho é intencional), sem qualquer vestígio de pejo, num clima de cúmplice silêncio e verdadeira amizade com tapinhas nas costas, sorrisos que mostram dentes brancos bem tratados e invejável otimismo. Agora, para votar o mínimo do mínimo dos trabalhadores, foram necessárias horas de discussões, não de suor e trabalho (isso fica para os trabalhadores), brigas, desentendimentos, tudo num clima tenso. É lógico, e o medo de que uns três ou quatro representantes da política honesta conseguissem arrastar o processo pondo em risco os cortes e plano de austeridade? Quanto mais rápido o tempo da votação e menor o salário mínimo, melhor para os grandes capitalistas e políticos omissos. Suor e trabalho, repito, só os dos trabalhadores.
Não entendo. Quanto mais dizem que a economia brasileira avança, situando-se entre as dez maiores do mundo, o salário mínimo parece não sair nunca do lugar, sendo um dos mais baixos do planeta. O que se compra com o salário mínimo? Duas cestas básicas, li no jornal. Como dizia minha tia, “que vantagem que a Maria leva”? A economia avança, estamos entre os primeiros, mas ao preço de um salário mínimo, desconfortável, dizem os ricos, mas miserável é o termo correto para o trabalhador que recebe. E a culpa é de quem? Dizem que é nossa, uma vez que fomos nós que escolhemos quem nos representa. Não temos saída. Escolher, nós sabemos sim, não temos é candidato, todos foram contagiados e consumidos pela doença fatal da cobiça e corrupção que corrói sua alma.
E o salário mínimo prossegue “minimíssimo”. Para os políticos, tudo bem, desde que continuem com sua nababesca vida na Corte. Para os trabalhadores que nunca viram uma Corte, só cortes e austeridade. E pão e circo, de vez em quando.