As ideias construtivas são inúmeras; deixo a sugestão de ao invés de se construir novos hospitais e escolas, que se cuide e mantenha os que já existem. Sim, sabemos que é mais caro manter que construir, mas por gentileza vejam que o objetivo das escolas e hospitais não deve ser a autopromoção, mas o atendimento aos necessitados.
Outra ideia que vale muito a pena é melhorar a formação profissional. Estive recentemente no Japão, antes do dia fatídico, e pude ver que a atitude das pessoas chama muito a atenção. Acho importante diferenciar os conceitos formação e informação. A informação pode ser obtida em vários lugares, congressos, livros, faculdades, e mesmo cursos a distância, já a formação, nos exemplos e referências pessoais e institucionais de conduta e caráter. Se possível, pensem sobre o que podem nos oferecer nesse sentido. É importante que a população tenha exemplos a partir dos quais possa se inspirar, claro além dos que já temos nas figuras de alguns esportistas, alguns rostos bonitos e famosos e outros anestésicos de índole a confirmar… Quando viajo ao exterior confesso sensação de estranheza com a ideia que as pessoas guardam das mulheres de nosso país e sobre que parte de nossa cultura lhes chama a atenção.
Sem querer chateá-los, insisto que talvez pequenas mudanças de comportamento, assim como criar novos hábitos pode ser bom para todos, inclusive para os senhores cujo sono e saúde certamente serão mais robustos. Realmente acredito que estamos em um momento oportuno em que vale a pena repensar e perceber que está feio demais. Acho que deve ser assim que as ditaduras começam… Imagino como os representantes das Forças Armadas, treinados na disciplina e no amor à pátria, devem se sentir com as situações diariamente trazidas ao público na forma de escândalos. Temo que a repetição diária destes maus exemplos que por um lado acostumam e anestesiam a opinião pública ao que há de pior, possam por outro gerar uma situação insustentável em que a força militar acabe precisando tomar iniciativa para promover uma solução final. Mudar letras de siglas não convence mais, além de confundir a cabeça das pessoas na hora de escolher. Afinal, para que tudo isso se depois cada um muda de novo a hora que quiser? Acredito que devamos entender a vantagem como um direito universal, não individual. Volto a Rousseau e lembro suas palavras de 250 anos atrás: “O debate é um feixe de luz que a todos ilumina”. Espero em Deus que estas questões levantadas não estejam apenas endereçando a ponta do iceberg de algo mais tenebroso, e caso este seja o caso, que nossos dirigentes tenham consciência da outra parte! Não custa tentar…
A ironia disso tudo creio só pode se dever à semelhança de nossos dias com aqueles da França de 1789. Penso ser interessante, antes de pensarem em reforma política, reformarem a forma como os meios de comunicação vêm sendo utilizados pelos seus proprietários e quem sabe informar de forma mais aberta sobre cada meio e quem o dirige, conforme sugerido em artigo na folha de São Paulo em 31/07/2011. Afinal, a presença midiática é parte de uma estratégia de campanha permanente, mesmo quando se trata de programas de culinária (Sócios de rádio e TV são 10% do Congresso –http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/inde31072011.htm). Isso é importante, pois o poder de algumas pessoas se estabelece justamente no poder de propagação de ideias, o que sabidamente pode ser potencializado pelos meios de comunicação.
Na verdade a situação atual é mais que tenebrosa, sem exagero, especialmente para quem pode ler em periódicos internacionais as impressões sobre a saúde da política e de alguns personagens políticos deste nosso país. Veja este caso no periódico espanhol El País, em 31/07/2011, com o seguinte título: “Por que no Brasil não existem indignados?” (veja na íntegra no site abaixo). Assusta ler um texto assim sobre o Brasil:“Las únicas causas capaces de sacar a la calle hasta dos millones de personas ahora son los homosexuales, los seguidores de las iglesias evangélicas en la fiesta de Jesús y los que piden la liberalización de la marihuana.“Devemos ao menos pensar sobre as escolhas que estão sendo feitas.
Em um primeiro momento pode ser difícil perceber como as esferas dirigentes podem influenciar tanto na questão da saúde pública, mas o fato é que um hábito nocivo estabelecido reflete na sociedade em todos os seus níveis, conforme podemos aprender no episódio abaixo protagonizado por Gandhi e descrito no livro “A autobiografia de um iogue”.
“À tarde, tive a oportunidade de conversar com uma renomada discípula de Gandhi, filha de um almirante inglês, a Srta. Madeleine Slade, a quem chamam agora de Mirá Belín. Seu rosto calmo e firme iluminou-se de entusiasmo enquanto me falava sobre suas atividades diárias, em impecável hindi.
– A obra de reconstrução rural tem suas recompensas! Um de nossos grupos vai todas as manhãs, às cinco horas, servir os habitantes da aldeia vizinha e ensinar-lhes as regras elementares de higiene. Fazemos questão de limpar-lhes as fossas sanitárias e suas choças de palha e barro.Os camponeses são analfabetos; não podem ser educados a não ser pelo exemplo!– Ela riu jovialmente.
Fitei com admiração esta inglesa de linhagem aristocrática, cuja verdadeira humildade cristã lhe permitia ser varredora de ruas, trabalho geralmente executado apenas pelos “intocáveis”.
O analfabeto é educado pelo exemplo. Ser analfabeto não é o mesmo que ser imprestável e nem que sejam pessoas que mereçam ser exploradas. Existem dois tipos de analfabetos, aquele que nunca estudou e aquele que estudou e não aprendeu nada, denominado analfabeto funcional. O analfabetismo funcional em nosso país é uma realidade de importância crítica. Por isso o exemplo dos dirigentes é tão importante, porque na verdade são eles os responsáveis pela educação, a partir do exemplo que dão em suas condutas noticiadas nos meios de comunicação. Não é recomendável reclamar do outro, mas fazer um auto-exame e o quanto antes criar um sistema de referência interior que independa daquele que nos cerca. Só assim, por um processo de inspiração à semelhança de uma reação em cadeia algo pode acontecer para que alcancemos um novo patamar de consciência e de saúde social. Que os três poderes, linha de frente na defesa dos ideais desta nação, hoje maculados nos exemplos de alguns, sejam luz que afasta as trevas daqueles que ainda não percebem quea família é humana.
Os exemplos fazem diferença sim! Preste atenção, considere, contemple! Imagine viver em um lugar inspirado por alguém como Gandhi que no reconhecimento dos valores de sua nação a convida a usar o próprio sal e a produzir o próprio tecido, proclamando de forma não violenta sua emancipação! Compare agora com um país “fictício” que tem suas referências em jogadores que morrem acidentados em ferraris e cantores que se acidentam em helicópteros e compram hospitais…
Se isso não lhe causa estranheza, amigo, só me resta à semelhança domédicoSimão Bacamarte, aquele que acreditava na saúde da alma, no conto “O Alienista” de Machado de Assis, que eu volte para onde eu não deveria ter saído… E se você ainda não leu, sugiro que o faça o quanto antes, no acervo digital do Ministério da Educação – Domínio Público em:
http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/contos/macn003.pdf
Quantas coisas boas e que fazem ver que vale a pena como Fernando mostrou:
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
“Fernando Pessoa”
A verdade traz alegria e SAÚDE. Que a semente da verdade que albergamos no coração sirva de guia, e seja o estremecer dessa semente no peito, sinal da presença do divino, nossa referência de agir, decor agir, agir com o coração, significado real de coragem. É na simplicidade do exemplo que vocês dirigentes nos dão que sua grandeza será reconhecida e sua vida plenificada.
Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar.
Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?
“Fernando Pessoa”