Por vários motivos não pude ir pessoalmente a Lima no Peru, mas não aceitei ficar fora do clima de uma decisão aguardada por 38 anos. Um sábado com sol Carioca em uma grande decisão continental. O mais belo e importante templo não poderia ficar de fora. O Maracanã estava no clima da grande decisão. O ritual era o mesmo: o seu entorno já coberto de vermelho e preto, e uma empolgação contagiante caminha em direção ao maior do mundo, como uma procissão onde a paixão é cultuada. A entrada segue o ritual de uma verdadeira religião onde os fieis entoavam os hinos com palavras de fé e exaltação.
O templo vai-se enchendo e a hora do culto se aproxima. Os desavisados acreditariam que ali estava acontecendo a grande decisão. Mas não, o Estádio Monumental em Lima fica a 4.846 km do grande templo. Fato que somente uma grande religião poderia proporcionar.
Os times entram em campo, os fieis rezam, pois a situação não estava bem. O time estava diferente e estranho. O time Argentino mais parecia o Flamengo do brasileirão, sufocando e reduzindo o espaço de jogo. As preces aumentam, mas o pecado acontece logo aos 14 minutos (River 1 x 0), pior, mantém a pegada de marcação, deixando o time do Flamengo nervoso com as esperanças Gabigol e Bruno Henrique apagados. O tempo passa até que o sino bate e tudo paralisa para o intervalo. Os fieis tentam acreditar no milagre do tipo: “Jesus vai resolver no vestiário. João de Deus (seu auxiliar) vai ajuda-lo na salvação”. Durante o intervalo, o mega telão cultua os “com sagrados” Zico e demais eternizados na religião. Recomeça o culto, a via-sacra continua, o time não se acerta, o tempo passa, os fieis parecem perder a fé. Alguns começam a dura via crucis de retirada para uma pesada caminhada com as várias historias de cheirinho e angústias. A noite chega e com ela uma suave chuva começa a cair sobre o templo. Com a chuva, o prenuncio que aquela noite que acabara de iniciar, seria uma chuva de graças. Além da espera de 38 anos, ainda teve que esperar por 89 minutos de angústia e sofrimento. Mas a fé vence a teoria, a paixão vence a desilusão. Em apenas três minutos, um êxtase toma conta do templo e tudo muda, tudo se transforma, a cerveja vira chuva, a tensão vira exaltação. A maioria entra em um processo de transe. Jesus e seus onze discípulos faz o milagre acontecer. Os argentinos estão incrédulos pelo que acontece: uma energia cósmica muda a historia da razão para a emoção, da fé e da paixão. Flamengo, muito mais que o mais querido, uma verdadeira religião.
A chuva não se contém, chega o domingo onde a TV intercala imagens do criador do domingo legal que subiu aos céus, enquanto Jesus e seus discípulos descem para pisar em solo brasileiro em um domingo mais que legal. Um domingo que reservava novas graças. A tarde mais um título cai de graça, sem precisar pisar em campo. É mais uma graça que despeja sobre a multidão de rubros negros que intercala o grito de campeão da América com o hepta campeão brasileiro. Uma verdadeira overdose de graças de alegria em um final de semana inédito e inesquecível.
Pelo menos essa é a minha opinião!