“Ando com saudades de namorados dando beijinhos no portão; de pedir bênção a pai e mãe; do sinal-da-cruz que fazia quando passava na frente da igreja; de sentir respeito pela polícia; de cantar o Hino Nacional com mão no peito e lágrimas nos olhos; de saber que o Zezinho, filho do porteiro, não vai morrer de dengue; e que Maria feirante poderá ter um filho médico.
Saudades de homens que usavam apenas o assobio como galanteio. Ando com saudades de galinha de galinheiro; de macarrão feito em casa com tempero sem agrotóxico; de só poder tomar guaraná em dia de festa; de homens de gravatas; de novela com final feliz; de dar bom dia à vizinha; de ouvir alguém dizer obrigado ao motorista e ele frear devagarzinho, preocupado com o passageiro.
Saudades de gritar que a porta está aberta para os que chegam. Saudades do tempo em que educação não era confundida com autenticidade – hoje, se fala o que quer em nome de tal verdade e pedir perdão virou raridade. Saudades das chuvas sem acidez, que não causavam aridez. Saudades de poder viajar sem medo de homem-bomba, de ser recebido com pompa em outra nação – atualmente, reina a desconfiança no coração.
Sinto muitas saudades do rubor das faces de minha mãe quando se falava de sexo – hoje, ele é tão banal que até eu banalizei. E acho que a maior saudade que tenho é a saudade de tudo que acreditei. Para meus filhos não poderei deixar sequer a esperança. Hoje, já não se nasce criança!”
Quando li este relato, fiquei com saudades das famílias que iam à igreja para rezar unidas, com fé no coração. Já contei que tenho histórias de graças alcançadas por meio de pedidos feitos a vários títulos da Virgem Maria e, hoje, repetirei um grande favor que consegui de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Na verdade, o início da minha conversão eu devo a ela.
Em 1994, quando comecei a cursar doutorado, eu passava a semana hospedado na casa de minha irmã em Campinas. Sobre a mesa que eu estudava, havia uma pequena medalha que ‘me fazia companhia’ todos os dias. Antes de abrir os livros, eu dava um beijo na medalhinha e a colocava de volta.
Com o passar do tempo, achei estranho aquele lindo objeto continuar ali, porque muitas outras coisas eram deixadas e tiradas da mesa quando a faxineira arrumava a casa, mas a medalha permanecia no mesmo lugar! Um dia, perguntei à minha irmã de quem era a bonita medalhinha e ela me respondeu que, talvez, algum de seus filhos a tivesse ganhado e nem se lembrava mais como foi parar naquela mesa. E completou: ‘Se quiser, pode ficar pra você’.
Naquela época, eu usava uma corrente no pescoço sem nada pendurado nela – pura vaidade! Então, coloquei a medalha e depois fiquei sabendo pela minha mãe que a imagem era de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Soube também que, quando eu era pequeno, todos os anos íamos à festa dela no último domingo de maio, no Santuário Nacional de Vila Formosa, São Paulo.
Bem, depois que comecei a carregá-la no peito, tudo foi mudando em minha vida: passei a rezar o terço, aceitei o chamado para coordenar um ministério de música católica, me envolvi com vários trabalhos na comunidade e, principalmente, o meu coração foi se tornando mais manso e humilde – meio semelhante ao Coração do Filho, que Nossa Senhora mostrava-me na imagem que pendurei na corrente.
E quando percebi que a medalha estava se estragando devido o uso diário, não tive dúvidas em substituí-la por outra e a guardei como lembrança da minha conversão. Às vezes, eu a retiro da gaveta, mostro a alguém que conhece esta história e explico: ‘Não é um objeto de sorte, mas devocional. Maria Santíssima não está nele, porém, por ter sido bento, é sagrado e um grande sinal de Deus, além de servir de inspiração nas orações’.
Muito tempo se passou até que pude retribuir um pouco da graça que recebi de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Hoje, participando de algumas Pastorais na Comunidade em que ela é Padroeira em Itajubá, procuro me esforçar no serviço gratuito e sincero para me aproximar mais do amor de Deus. É emocionante cantar o ‘Lembrai-vos’ olhando para a linda imagem da querida Mãezinha no altar.
Sempre darei o testemunho de que, por meio da intercessão da Mãe de Deus, já fui curado de várias enfermidades. E não foram problemas simples, tanto físicos como espirituais, embora para Jesus, na Sua infinita Misericórdia, todos os problemas sejam iguais.
A cada cura em pessoas de minha família, houve também um novo despertar na fé. Reconhecíamos que para continuarmos sendo filhos amados de Jesus e de Maria, teríamos que ser instrumentos de evangelização e de paz aqui na Terra. Passando a agir assim, temos sido muito abençoados em todos os sentidos.
Viva Nossa Senhora neste ano novo e sempre!