– Portanto, por sua culpa, alguns administradores sentem-se prejudicados, não conseguindo atingir os resultados esperados.
O réu, embora limitado, perante a acusação que lhe pesava, mantinha-se irreversível. Sua conduta era constante. A sessão prosseguiu e a palavra coube à promotoria, que argumentou:
– Conviver com o réu é praticar de forma desgastante a ciência do comportamento humano. A ele cabe organizar o nosso trabalho, nos aliviando da tensão interna e pressões externas. Torna-se insubstituível e nos obriga a definir objetivos, a concentrar nas prioridades e a controlar resultados no trabalho. Façamos dele um deus?
A defesa foi eloquente:
– O acusado não exige nada de ninguém, aliás, é benevolente com todos. Quem o menospreza, acaba rendendo-se a ele, mais cedo ou mais tarde. Se o aceitarmos com disciplina e organização, seremos proativos e teremos maiores possibilidades de sucesso; caso contrário, nossa produtividade estará comprometida.
Embora pairasse no ar certa concordância por parte dos jurados, a acusação rebateu:
– Nascemos sob sua égide e dizem que para o bem vivermos é necessário técnica e arte. Onde buscá-las se ele não as oferece?
A defesa intercedeu:
– É simples e lógica essa resposta. Um bom treinamento e planejamento diário resolvem quase todos os problemas nesse sentido. E como consequências, surgirão reeducação de hábitos e maior objetividade de ações. Pode-se negar a isso?
Novamente a promotoria:
– Nossas atividades consomem energia e possuem o seu custo. Não fosse o réu, certamente não teríamos sobrecargas de trabalho, desgastes físicos e emocionais em nosso meio. Peço a sua condenação, pois é um absurdo que o tenhamos como limite em nossas vidas.
E a defesa finalizou:
– Não façamos injustiça, senhores jurados. Ninguém pode acusar o réu de não se doar a todos de forma equitativa, até mesmo aos animais irracionais. Se ele foi colocado singular na natureza, uma razão a mais para que não o desprezemos nem o desperdicemos. Analisá-lo a cada dia e discuti-lo sempre, nos condiciona a melhorar o nosso desempenho profissional, familiar e pessoal. Basta administrá-lo adequadamente a partir de agora. Clamo pela sua absolvição.
Após o veredicto dos jurados, o meritíssimo juiz leu a sentença final:
– Absolvo o Tempo Improdutivo, esse período cronológico que limita as nossas atividades diárias, e o devolvo à vida de vocês com o nome de Tempo Planejado. Façam dele um bom uso, não o menosprezem nem o desperdicem ou, quem sabe, estarão aqui um dia em seu lugar prestando contas de suas vidas.
E nunca mais, em qualquer época, soube que o Tempo Planejado deixou de existir no trabalho dos profissionais eficazes.”
Bem, quando escrevi esta história há mais de vinte e cinco anos, a titulei de ‘A Lenda da Administração do Tempo’; e ainda hoje insisto que gerenciar o tempo é uma arte. Muitos acham que conseguem fazê-lo bem através de disciplina rígida no comportamento pessoal; outros procuram se organizar com moderação nas mudanças de hábitos. Respeito o estilo de cada um, mas ensino que estes cinco passos são essenciais à pessoa que procura melhorar a sua produtividade e a qualidade do serviço que presta:
1. ter um objetivo desafiador, mas alcançável;
2. elaborar uma lista de tarefas a realizar;
3. estabelecer escala de importância e urgência para as tarefas, de acordo com o objetivo proposto;
4. fazer um planejamento diário de atividades, priorizando mais tempo para as coisas importantes; e
5. minimizar os desperdiçadores de tempo no trabalho, para tentar cumprir o planejamento.
Se, com o tempo, isso tudo funcionar com naturalidade, certamente existirá uma parcela de ‘tempo ganho’ pelo profissional que conseguiu melhorar a autodisciplina e organização pessoal. Mas, o que fazer com esse tempo?
Nos cursos que já ministrei, ao fazer esta pergunta, cheguei a ouvir de tudo um pouco, menos ‘rezar’. Por que será? Seria vergonha de professar a fé em público? Acho pouco provável esta hipótese e acredito ser falta de prioridade à oração.
São Vicente de Paulo rezava sete horas por dia! Dizia que só assim seria possível praticar obras de caridade em nome de Deus. Quanto mais rezava, mais caridade praticava, iluminado pelo Espírito Santo. Valeu a pena priorizar dessa maneira o tempo; hoje, ele também é santo e intercede por nós!
Ação e oração, oração e ação, não importa a ordem. O importante é sabermos administrar o nosso tempo e deixarmos uma parcela maior desse precioso recurso para evangelizar. Evangelizar orando! Evangelizar testemunhando o amor de Jesus e de Maria por nós! Evangelizar participando dos trabalhos da comunidade! Evangelizar dando as mãos ao irmão mais pobre!
Meus Deus, me ajude. Haja tempo!