– Olá, amigo! – batendo na mesa com suas mãozinhas gordas.
O pai viu à frente um homem sujo, com um casaco engordurado e rasgado jogado nos ombros.
– Olá, neném. Como está você? – disse o homem a Daniel.
Todos no restaurante se viraram para o mendigo e ninguém acreditava que ele não estivesse bêbado, principalmente quando a comida chegou à mesa e aquele homem continuou brincando com a criança. Então, marido e mulher se apressaram em terminar logo a refeição.
Quando acabaram de comer e levantaram-se para ir embora, Daniel se voltou para o velho, estendeu os braços e o deixou pegar no colo. Seus pais ficaram envergonhados com a submissão do menino ao mendigo, que fechou os olhos e deixou algumas lágrimas correrem pela face enquanto apertava a criança no peito.
Então, o velho homem devolveu o filho à mãe e disse-lhe:
– Cuide bem deste menino, minha senhora. Hoje, Deus me deu um presente maravilhoso.
Os pais, assustados, saíram correndo do lugar e, ao se sentirem seguros dentro do carro, arrependeram-se do comportamento que tiveram.
– Deus meu, Deus meu, me perdoe! – falou o pai.
– Não quisemos dividir nosso filho por um momento, mas Deus compartilhou Seu Filho com toda a humanidade! – disse a mãe.
Pois é, eu escrevendo este fato do menino no restaurante, me veio à mente que, quando criança, gostava de assistir a série ‘O Túnel do Tempo’. A cada episódio, dois personagens voltavam ao passado e se envolviam com fatos épicos da História.
Eu vibrava ao reviver cenas que havia aprendido na escola, e acabava completando meus conhecimentos. Apenas me chateava por alguns resultados não poderem ser mudados, mas concordo que não seria sensato se isso acontecesse. No começo de cada filme, os personagens não sabiam para onde iriam, e eu achava que melhor seria se pudessem escolher.
Revivendo agora os sentimentos daquela época, me coloco na condição de sonhar com essa volta ao passado. Mas, para onde eu iria? Não podendo mudar os fatos, valeria a pena?
Bem, sem riscos de morte e sabendo o tempo da ‘viagem’, com certeza, eu aceitaria o desafio e minha opção seria conhecer Jesus Cristo face a face. Isto resolvido, restaria escolher o período de Sua vida que eu assistiria.
Em princípio, considerando os sofrimentos vividos por Cristo na paixão e morte, eu descartaria os mistérios dolorosos. Restariam, ainda, dezenas de passagens que marcaram a vida gloriosa de Nosso Senhor. Que bom seria vê-Lo realizando curas, perdoando, contando parábolas, falando de amor, chamando os apóstolos, repreendendo os doutores da lei, transformando água em vinho, instituindo a Eucaristia, se transfigurando… ressuscitando!
Porém, eu trocaria cada contemplação maravilhosa dessas cenas pelo nascimento do Menino Jesus. Além de adorá-Lo em particular, teria a ímpar oportunidade de ver a alegria estampada nos rostos da Virgem Maria e de São José. Então, eles veriam eu fazer algo impossível de ter acontecido naquela época: cantar ‘Noite Feliz’! Isto em nada mudaria a História, mas santificaria a minha vida a partir daquele momento.
Raciocine comigo, leitor(a): há como ser a mesma pessoa após pegar Deus Menino no colo? E mais: beijar as mãos de Nossa Senhora, abraçar o bom e justo José, presenciar o primeiro presépio vivo, ver a chegada dos Reis Magos; além de poder contar tudo isto aqui, nos próximos artigos.
Talvez eu não visse milagres nem grandes pregações de amor – que em nada diminuiria a minha fé. Contudo, ver Jesus criança já é mais do que qualquer presente que eu poderia imaginar, porque sempre tive adoração pelo Menino Jesus. Peço proteção a Ele diariamente, fiz música em Sua homenagem e O tenho no coração.
E dando um pulo no passado mais recente, eis um fato que tenho satisfação em contar:
Há dois anos que visitava uma fábrica de imagens religiosas em Mafra – Santa Catarina. Sempre que ia à casa de minha filha, passava pela fábrica e, em especial, namorava uma linda imagem do Menino de Nazaré – Ele de pé, com 83 centímetros de altura. Da primeira vez que perguntei o preço, disseram mil reais. Depois de algum tempo, aumentou para mil e duzentos!
São centenas de imagens naquele lugar, algumas gigantes, mas eu fiquei apaixonado pelo Menino. E eis que, no mês passado, voltando lá, falei brincando:
– O Menino Jesus abaixou de preço?
– Sim, reduzimos porque não o faremos mais e estamos liquidando – responderam.
Então, comentei com minha mãe:
– Deve ter voltado a custar mil reais. He he he…
– Agora, custa duzentos e vinte – falou o vendedor.
Fiquei preocupado em prejudicar o funcionário se tivesse errado o preço, e pedi para confirmar com o dono. Conclusão: a imagem está hoje em minha casa. Soube que até as estátuas menores são mais caras do que aquela, porém, Ele quis ser meu!
E já que não posso voltar à era de Cristo nem conversar com Sua imagem, tenho em vista algo possível de se realizar: visitá-Lo na casa do pobre e preparar melhor o meu coração para vê-Lo nascer no Natal.
Tenha a inocência de uma criança você também.