Quando Baden-Powell começou a dar forma à sua proposta de um movimento educacional para jovens, percebeu que deveria ter algumas características que lhe possibilitassem o sucesso: trazer para o jovem o desafio, algo diferente do seu cotidiano; aprendizagem pela ação do próprio jovem, lançando-se à resolução dos problemas em lugar da passividade de esperar que alguém fizesse por ele; convivência no grupo social; espaço para tomar sol, respirar ar puro, movimentar-se; ampliação de sua visão de mundo.
As atividades ao ar livre propiciam tudo isso, e continuam úteis mais de um século desde o acampamento experimental de Brownsea (agosto de 1907). Saberes e destrezas como: selecionar o tipo e quantidade de roupa, equipamento e comida a levar; considerar a própria capacidade de carga; identificar pontos de referência, abrigos, pontos de apoio e rotas de fuga; construir seu local de dormida; preparar sua refeição; participar de jogos e cumprir tarefas; explorar lugares, observar animais e conhecer pessoas fazem do jovem muito mais que um “sobrevivente”, pois fomentam atitudes de lealdade, cooperação, convivência, iniciativa, responsabilidade, autonomia, previdência, preservação da saúde.
No século XXI, com todo o aparato tecnológico capaz de gerar um nível de conforto que nem aos mais poderosos monarcas era possível na época de B-P, poderia ser questionada a validade da prática de ar livre no Escotismo. Entretanto, é de se notar que na eventualidade de um desastre natural ou de um “apagão” tecnológico, a própria sobrevivência pode depender da capacidade de manejar recursos limitados – identificar terreno adequado para se colocar, obter meios de subsistência e abrigo, sinalizar para outros.
Numa perspectiva menos “terrorista”, percebe-se que pessoas que se habituaram a assumir as responsabilidades, tomar decisões, conviver com diferentes opiniões e pôr-se em ação para solucionar problemas são as que geralmente chegam a postos de comando. E isso não se aprende em jogos de computador, mas sim na própria lida diária, interagindo com outras pessoas e fazendo face às situações adversas.
A aventura de viver ao ar livre continua a ser uma ferramenta da maior relevância no processo de desenvolvimento da pessoa; as “habilidades para sobreviver no campo” são elementos metaforizáveis para a sobrevivência e aprimoramento na vida social.