É uma história de opostos que caracteriza muito bem a atual comercialização do azeite – óleos de excelência buscando seu espaço contra os preços da comoditie mundial e seus milionários subsidios. Mueller, mais conhecido por seu artigo em 2007 sobre o mundo da adulteração do azeite, intitulado Slippery Business – “Negócios Escorregadios” na revista The New Yorker, dedicou os últimos quatro anos mergulhado no assunto. Quando os EUA atingem sozinhos com enorme rapidez o volume de U$1,5 bilhão no comércio do valioso óleo, é compreensível que o autor revele histórias de negócios pouco convencionais. Ele introduz o leitor em um grande número de situações passadas ao redor do mundo. De arquétipos heróicos, como Paolo Pasqualli da Villa Camperti na Toscana, um professor de filosofia que luta por um sistema de proteção do óleo, ao vilão, personagem como Domenico Ribatti cuja atividade ilegal de adulteração eventualmente o leva a protagonizar barganhas nas cortes italianas.
Confesso-lhes que ainda não li totalmente o livro. Tive com ele nas mãos e pude folheá-lo, comprei hoje pela Amazon, mas os comentários a respeito e a crítica feita pela jornalista Caroline J. Beck em site especializado levaram-me a escrever este texto a partir das reflexões que faço sobre o mercado brasileiro.
Com a velocidade do crescimento do comércio do azeite no Brasil, país ainda desprovido de regulamentação específica e vivendo profunda crise ética no meio político e social, podemos imaginar quanta fraude existe nas transações que levam às prateleiras dos supermercados brasileiros os extra virgens que consumimos.
Nos dias 20 e 21 de junho de 2011 ano foi encerrado o prazo dado pelo MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento à consulta pública do Projeto de Instrução Normativa que aprova o Regulamento Técnico dos Azeites de Oliva e dos Óleos de Bagaço de Oliva, que definirá o seu padrão oficial de classificação com os requisitos de identidade e qualidade, a amostragem, o modo de apresentação e a marcação da rotulagem, na forma dos seus Anexos.
Parece uma luz no fim do túnel desse mercado de poucos escrúpulos. A partir de 2012, uma vez publicada essa regulamentação, o Brasil ficará um pouco mais protegido, pois terá parâmetros para definir o padrão de qualidade do azeite que aqui é consumido.
O caminho para o aprimoramento já se iniciou… é visível que o consumidor brasileiro está começando a exigir mais e o acesso a produtos de qualidade é essencial para que esse discernimento seja cada mais apurado.
O simples fato de vermos a mais tradicional marca de azeites no Brasil enfatizar sua publicidade nas novas embalagens com vidros escuros “para evitar a oxidação e manter seu frescor” já é muito significativo e indica que um primeiro passo, ainda que pequeno, já foi dado.