As atividades humanas que envolvem como, por exemplo, a queima de combustíveis fósseis por carros e outros meios de transporte, geração de energia por termelétricas, queima de vegetação e desmatamento têm contribuido para aumentar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera que, por sua vez, causam aumento da temperatura do planeta.
O aumento da temperatura não possui a mesma magnitude em todos os locais do globo e tão pouco os impactos causados pelo aumento da temperatura são iguais em todo o planeta. As mudanças no clima pelo aumento da concentração de gases de efeito estufa têm causado o aumento de eventos extremos de chuva em muitos locais, períodos de secas mais prolongadas e severas, alteração na distribuição espacial das espécies animais e vegetais entre outros. A escassez d’água, a possível falta de alimentos e o rápido espalhamento de doenças são alguns dos inúmeros problemas que a sociedade já enfrenta e que se tornarão mais severos.
O que fazer para não aumentar a temperatura global? O óbvio é parar de emitir gases de efeito estufa. Só que para isso, muito investimento financeiro é necessário para mudar, por exemplo, a matriz energética dos paises. No caso do Brasil, é necessário reduzir drasticamente o desmatamento e as queimadas. Mas mesmo que nesse momento parassemos completamente de emitir gases de efeito estufa, o problema do aquecimento global continuaria por décadas já que os gases de feito estufa permanecem por muito tempo na atmosfera. Há gases que se mantém na atmosfera por mais de 100 anos. Mesmo assim, a solução ainda é reduzir as emissões para que o aquecimento do planeta que hoje é de 1,1oC, em referência à temperatura média do período pré-industrial, não ultrapasse a 1,5oC. Se esse limite for ultrapassado, vários estudos têm indicado que ocorrerão alterações irreversíveis como o degelo permanente da Groelândia. Isso impactará de forma brusca a humanidade, pois contribuirá para o aumento do nível do mar, o que inundará várias regiões costeiras; para o aumento da temperatura já que menos gelo significa menos reflexão dos raios solares para fora da atmosfera entre outras inumeras consequências. Seria um caminho para a destruição da vida.
Uma nova possibilidade para amenizar o aquecimento global seria a utilização de medidas de geoengenharia. A geogenharia se dedica ao desenvolvimento de tecnologias para compensar o aquecimento global produzido pelos gases de efeito estufa estufa. Essas tecnologias se dividem basicamente em duas categorias: a geoengenharia de carbono, que visa a remoção do dióxido de carbono da atmosfera e a geoengenharia solar, que visa bloquear parte da energia solar (refletir a luz do sol) para que haja um resfriamento do planeta. O jornal The Economist produziu uma série de vídeos sobre o tema mudanças climáticas e um deles explica um pouco da geongenharia (https://www.youtube.com/watch?v=dFMMssyRsWo), que pode ser últil para o leitor que estiver interessado no assunto. A geoengenharia é um tema muito controverso, pois se de um lado ajuda a reduzir o aumento da temperatura média global, por outro lado ainda não se conhece os impactos adversos ao ambiente. Por isso, é um tema de muita discussão entre os pesquisadores e tomadores de decisão.
Para produzir conhecimento sobre o assunto, alguns grupos de pesquisa têm sido organizados no globo para estudar os impactos da geoengenharia em diversos segmentos como na climatologia de regiões específicas, nos eventos extremos e na agricultura. Um desses grupos é o Degrees Initiative. Em 2022 passei a fazer parte desse grupo e entre os dias 23 a 26 de janeiro de 2023 participei da reunião do grupo (Figura 1) realizada em Istambul, Turquia. Recebi a tarefa de ser a pesquisadora responsável pelo estudo do impacto de técnicas de geoengenharia solar na climatologia de ciclones extratropicais no Hemisfério Sul. Esse é um tópico de grande importância já que se os ciclones se tornarem mais intensos, as regiões costeiras poderão ser fortemente impactadas. Para realizar a tarefa contarei com o auxilio de pesquisadores da África, da Universidade de São Paulo e de meus orientados tanto do curso de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Recursos Hídricos quanto do curso de Graduação em Ciências Atmosféricas da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). A pesquisa tem que ser concluída no prazo de 18 meses.
Os cientistas trabalhando no estudos dos impactos da geoengenharia não têm posição a favor ou contra. O objetivo é gerar conhecimento para entender melhor se há ou não benefícios com a técnica. Ressalto que nenhuma medida de geoengenharia pode ser implementada sem um grande estudo dos impactos no planeta.
Finalizo esse artigo falando um pouco da cultura de Istambul. É uma cidade que guarda muitas informações do passado. Há um museu de arqueologia que possui peças que datam de mais de 6 mil anos antes de Cristo (Figura 02). Também há um pequeno museu com uma coleção de sarcófagos de sultões. A cidade encanta por suas esplendorosas mesquitas e a catedral ortodoxa Sofia.
Por Dra. Michelle Reboita
Pesquisadora do IRN/Unifei