Às vezes assisto um programa chamado “Decifrando Milagres”.
O título anuncia a linha do documentário: a ideia é que tudo na natureza pode ser explicado pela ciência. Se chamamos alguns fatos de milagres, trata-se apenas de ignorância. Um dia tudo será lógico, racional e compreensível.
Esse é o ponto de vista prevalente na nossa cultura.
Temos orgulho em dizer que saímos das trevas rumo à luz do conhecimento, e por trevas entendemos tudo aquilo que nos parece misterioso.
O homem moderno conserva dentro de si um pavor primitivo de tudo o que ele não domina. É apavorante saber que temos pouco ou nenhum controle sobre a vida, que ela tem as suas próprias regras e que nos surpreende com frequência com elas.
Não conseguimos conviver com o inesperado nem com a impermanência. Precisamos dirigir e determinar o amanhã, e fazê-lo subordinado aos nossos interesses e necessidades.
Nada pode ficar solto, nada deve ocorrer sem que saibamos ou tenhamos previsto.
Entretanto, bem lá no fundo da alma, sabemos todos que este esforço, muitas vezes, é vão.
Os acidentes, as perdas, a morte, estão todos aí para nos recolocarem na vida real, dolorosamente incontrolável.
O medo do imprevisto da vida é tão grande dentro de nós, que colocamos no mesmo pacote assustador o bom e o ruim. E perdemos o bom.
Explico: quando crio defesas contra aquilo que pode me machucar, elas me protegem também, por exemplo, de me apaixonar, de chorar quando vejo um por de sol, de me sentir renovado quando nasce um bebê…
Quando insisto em compreender o que me cerca a qualquer custo, a não deixar espaço nenhum para o misterioso, o incompreensível, o milagroso, perco junto a ternura, a emoção, o maravilhoso da vida.
Não há como separar a dor do prazer. São irmãos gêmeos.
A saída é viver intensamente o prazer e assim se fortalecer para a hora da dor.
Simples assim!