Tenho um monte de coisas pra fazer, mas desde sexta feira passada estou devorando o livro e deixando tudo o mais pra depois. Chego a fazer uns combinados assim: “Só mais essa folha e depois… Só mais esse capítulo e depois…”
Fascinante a ideia que o autor desenvolve. Com base em Philippe Ariès, um respeitado historiador contemporâneo que trata da história da morte no Ocidente, ele nos ajuda a compreender as razões subjacentes da nossa tolerância para com a violência social.
Violência de todas as formas, aparentes ou escondidas: pobreza, injustiças sociais, ignorância, agressividade doméstica, mortes nas escolas, violência urbana…
A vida para as sociedades capitalistas, nas quais a lógica é a produção em massa, a quantidade, o lucro, não tem o valor das coisas que são únicas. Aquilo que define um ser humano, a sua individualidade não reprodutível, aquilo que faz a vida ser preciosa, não faz qualquer sentido nesse início de século novo.
Para que possamos negar a baixa qualidade humana que suportamos, temos que fazer de conta que a velhice e a morte não são importantes nas nossas vidas. Mais: temos que negá-las de toda forma. Assim endeusamos a juventude, a beleza do corpo, as coisas novas e “modernas” e escondemos cada vez mais a morte dos nossos próprios olhos.
Não se morre mais em casa (os hospitais existem para isso), não se leva o corpo pelas ruas no enterro (as casas de velórios estão agora dentro do próprio cemitério), o luto deve terminar logo e a vida “voltar ao normal” rapidamente. É de mau gosto infringir essas regras…
Tenho pensado um bocado, desde sexta feira: talvez seja por isso que não estejamos chocados por Itajubá estar se tornando uma grande cidade, pelo menos no que diz respeito à violência.
Ônibus estão sendo queimados, ao melhor estilo de São Paulo e Rio, policiais sendo alvejados, assassinatos cruéis sendo cometidos, comentários sobre as exigências do PCC, e nós…
Nada!
Talvez porque o valor da vida tenha caído na cotação das Bolsas.