A natureza, que ele sempre amou e respeitou, retribuiu com amor: derramou com delicadeza a água que firmou as raízes, dissolveu a essência dele e o reintegrou à terra.
E agora as folhas novas são a sua contribuição à vida.
Vamos colocar uma placa frente às quaresmeiras do Marco e a da Chris, mais antiga. Afinal, não somos eternos e um dia, no futuro, pode ser que alguém não saiba mais quem são as duas árvores gêmeas!
Colocada a placa vamos iluminar as árvores de baixo para cima com uma luz suave e morna, que vai fazer companhia aos dois durante a madrugada. Mais do que fazer companhia, a luz vai lembrar a todos que passarem por ali, que a vida é fugaz e que só vale a pena se for vivida inteira, com coragem, com alma e com amor profundo, como foi a marca dessas duas pessoas maravilhosas que se admiravam e se gostavam tanto.
Ambos vão perpetuar o seu destino de professores. Se antes eles falavam de morte, agora celebram a vida e a eternidade do amor e do cuidado…
Mais tarde eu vou colocar um banco sob a quaresmeira do Marco.
Em todos os momentos de descanso, vou me sentar à sombra dele e conversar baixinho com ele. Vou lhe contar da vida e das alegrias que ela traz. Vou lhe falar de amor, de gratidão e de dedicação.
Vou descrever as crianças que nascerem depois dele ter partido; ele pode ter conversado com as suas almas antes delas se materializarem, e quem sabe ter soprado a elas algum recado…
Vou lhe contar dos seus pacientes, os que morreram e os que estão vivos; vou lhe dizer que vamos concretizar o Serviço de Cuidados Paliativos no Hospital Escola e que ele é a alma de tudo o que continuamos a construir.
Vou levar os alunos prá se sentarem ao lado dele, também.
Às vezes vou dar aula sob as flores da quaresmeira!
Quem sabe ele se dispõe a conversar conosco mais uma vez sobre o seu sonho, o de que Cuidados Paliativos sejam a regra para quem se prepara para partir.
É fazer silêncio e ouvir a brisa entre as flores: este vai ser o sussurro dele…