Aqui pertinho de nós, em Passa Quatro, um primo meu se prepara para ser re-eleito para a Prefeitura.
Políticos no Brasil carregam uma longa tradição de serem ladrões, malandros e aproveitadores enquanto estão no cargo. E permanecem assim enquanto podem.
Claret foi um ótimo Prefeito, e tinha ainda 28 anos nos anos 1980, quando se lançou pela primeira vez candidato. Impulsionou a cidade para a sua vocação, o turismo, e iniciou a transformação para o encanto que ela é hoje.
Somos de uma família profundamente amorosa, unida e cuidativa. Acho que formamos, mesmo, um clã, na melhor tradição da palavra.
Lembro-me de uma história muito antiga, que sempre me encantou. O pai do Claret era o farmacêutico da cidade, tão importante quanto o padre, o médico e o juiz, nas pequenas regiões. Ele e a esposa tiveram muitos filhos. Minha mãe tinha uma irmã que não podia tê-los. Muito amigos, o casal entregou, com todo carinho, um filho recém-nascido aos meus tios. Meu primo teve sempre dois pais, duas mães e muitos irmãos, apesar de filho único.
Até hoje não conheço maior ato de amor e de cuidado. Duas mães se debruçam sobre um mesmo filho, dois pais o conduzem pela vida e ninguém se sente rejeitado, ninguém compete, ninguém abandona.
Assim cresceu o Claret, e assim foi amado pelo povo da cidade.
Há alguns dias ele teve um infarto. Lutou o quanto pôde. Dizem que, na UTI, quando acordava do coma, perguntava sobre as eleições.
Ele morreu ontem às 18h. Não pôde mais resistir.
Deve ter sido convidado a tornar belo algum lugar no céu.
Voou para o Infinito…