Em paralelo, a sociedade leiga vai se tornando cada vez mais patriarcal e mecanicista, vai se regendo cada vez mais pelos valores do capitalismo industrial, o super povoamento das cidades vai eliminando rapidamente a zona de conforto entre as pessoas, a natureza vai se tornando apenas a presa das necessidades predatórias do progresso e não mais a Grande Mãe amorosa do homem… Está pronto o cenário para a eleição dos valores materiais em detrimento dos espirituais, está instituído o predomínio do Ter sobre o Ser, da competição sobre o compartilhamento, do novo sobre o velho, com a consequente perda do vínculo do homem com a sua essência matriarcal profunda!
Não há mais respeito aos valores do feminino, que passam a parecer pouco eficazes para o progresso material da humanidade quando comparáveis aos do masculino; os sentimentos atrapalham a clareza e a concisão racionais; a intuição (porque não pode ser reproduzida e comprovada pela lógica) não tem valor como previsão de ocorrências; a arte passa a ter o valor questionável de apenas entretenimento, e não tem mais a força necessária para a transmissão cultural de valores; a mulher passa a ser a parte inferior (e não complementar) do homem e a ele deve submissão afetiva e econômica…
E assim a alma, associada desde sempre ao Feminino, ao Sagrado, à Paixão, à Noite, ao Silêncio e ao Recolhimento, vai sendo banida para a periferia das experiências do homem, com o consequente empobrecimento da cultura onde está inserida tal dissociação.
Mas uma nova revolução se anuncia e rapidamente se propaga: a Espiritualidade vem se libertando da Religião e passa a habitar o interior de cada homem e de cada mulher, estando então disponível para o acesso individual a qualquer momento… A alma volta a ter status de realidade imediata e alimenta a razão com os valores do espírito, do impalpável e do transcendente, com evidente enriquecimento das experiências do homem…
Ao lado disto, a Espiritualidade também ascende, e em igual velocidade, ao mesmo patamar que alcançou a Ciência no mundo moderno: a Espiritualidade vai sendo progressivamente vista como resposta às questões cruciais da humanidade (“quem sou eu?” “de onde vim?” “para onde vou?” “que sentido faz a minha vida e a minha morte?”), da mesma forma como a Ciência parece ou pareceu ser!
O combustível para esta transformação é encontrado, por ironia, justamente na mais ampla consequência do progresso científico, a globalização, esta mesma globalização que tem sido vista como a vilã da destruição de culturas. Nunca as pessoas, como hoje, puderam ter tanto contato com tantas culturas diferentes, com o consequente efeito transformador que isto tem…
Até a próxima coluna.