Temos despojado todas as coisas
de seu mistérioe de sua numinosidade.
Nada mais é sagrado.
Carl Gustav Jung
No mundo ocidental moderno, a Espiritualidade sempre esteve associada à prática da religião instituída, com os seus dogmas, os seus códigos de punições e recompensas e, especialmente, com o conceito explícito ou implícito de que, fora daquelareligião em particular, não existe vida para a alma ou o espírito.
A Espiritualidade fica então vinculada a determinados momentos especiais, com os seus ritos (quando existem) especiais, os seus locais sagrados, e praticada apenas por delegação e através dos emissários constituídos daquele credo religioso. O diálogo com o princípio divino daquele sistema religioso tem data para acontecer e tem intermediários oficialmente instituídos, sem os quais o rogo do suplicante não tem a mesma eficácia.
Aqui é importante distinguir entre os dogmas originais de um dado sistema religioso, e os ajustes que neles vão sendo praticados ao longo do tempo. Se tomarmos a religião cristã, ainda detentora do maior contingente de praticantes do mundo ocidental, vemos que originalmente se entendia como prática válida, a reunião de qualquer número de pessoas em qualquer lugar, desde que o intuito fosse louvar ao deus cristão.
Como isto pareceu certamente demasiado pagão aos primeiros cristãos, aos poucos se elegeram locais especiais, que foram se tornando progressivamente mais pomposos e ricos, e se fixando como os únicoslocais de onde se podia ouvir a voz do deus, ou de onde o praticante podia ser ouvido pela hierarquia religiosa.
A primeira consequência direta disto é o distanciamento que passa a existir entre o praticante do rito cristão e o Sagrado que ele procura (nas religiões pré cristãs, o contato do homem com o Divino era muito mais pessoal, sem intermediários, podia acontecer a qualquer momento e, por consequência, podia se estender aos atos triviais do dia a dia).
Até a próxima coluna.