Quem organiza o curso é uma pessoa que admiro muito… A um convite dela eu não hesito em responder que sim. Mesmo quando deveria agradecer e declinar, como agora. Os últimos meses do ano para um professor são muito trabalhosos e, para a minha Disciplina, são particularmente cruéis.
Mas que não me entenda mal o leitor! É delicioso ver a produção espontânea dos alunos nos dois Projetos extracurriculares da Disciplina. Mais um Manual de Cuidados Paliativos, mais um vídeo, mais 40 ou 50 alunos que passaram duas semanas em estágios por Serviços de CP pelo Brasil, mais alguns cursos, mais artigos científicos publicados ou levados a Congressos (neste ano de 2014 quatro alunas tiveram trabalhos aceitos num Congresso Internacional de CP na Colômbia e fizeram bonito)…
Acontece que encerrar toda essa produção, avaliar a qualidade do trabalho realizado, planejar o próximo ano demanda tempo, dedicação e organização de todos. E, de quebra, as provas finais, exames, e o planejamento de aulas para o ano seguinte.
Mas a um convite da Inês eu não digo não.
E nunca me arrependo. Dessa vez, então, ela juntou um dos melhores grupos de profissionais que eu já tive a oportunidade de ensinar. Gente jovem mas experiente, sensível, aberta, como todo professor deseja. Conheci e convivi com pessoas surpreendentes nos valores, nos objetivos de vida e de trabalho. Muitos médicos (aliás, a maioria), coisa que não é muito comum em Cuidados Paliativos.
Na verdade, e não me orgulho nada de dizer mas nós, os médicos, somos os profissionais que mais dificultam a implantação dos CP na maioria dos países, e o Brasil não é exceção.
Pois lá não: muitos médicos e muitos deles homens.
É, as coisas andam mudando, e prá melhor. Cuidados Paliativos vêm ganhando espaço, vêm sendo desejados pelos profissionais para que façam parte das suas práticas, equipes de trabalho formadas por diferentes profissionais que se respeitam e se complementam vão se tornando regra.
Quem mais ganha com isso é o doente, é claro. Ele recebe um tratamento integral, o melhor cuidado prestado pelas várias profissões que se complementam, muitos olhares o observam, muitos ouvidos estão à sua escuta, muitas mãos se estendem em sua direção.
Mas nós também ganhamos, e muito… O prazer que dá ver um doente nos chegar silencioso, deprimido, muitas vezes sofrendo dores terríveis, com feridas pelo corpo porque está na cama há muito tempo e, um dia depois, encontrar essa mesma pessoa sorridente, é indescritível…
Talvez seja esse o momento em que a gente se sente mais perto de Deus: eu pude usar a minha Arte e a Minha Ciência para diminuir o sofrimento de alguém! Felicidade é isso…