Como não poderia ser diferente, em 2020 os nossos painéis de Educação Financeira incorporaram um elemento novo como pano de fundo, a pandemia causada pela Covid-19.
Não podemos negar que a situação de pandemia gerou muitas perdas. A principal delas está relacionada às mais de 200 mil vítimas brasileiras que já foram contabilizadas até a data desse nosso painel. Somos solidários e desejamos as nossas mais sinceras condolências a todas as famílias que perderam seus entes queridos.
Como diz a música Mutirão de Amor de Jorge Aragão, precisamos “Saber que nem tudo é perdido” e devemos tirar alguns ensinamentos dessa situação. No nosso último painel, por exemplo, fizemos um comparativo em relação ao conceito financeiro de investimento com a compra das vacinas no combate à pandemia da Covid-19. Hoje, vamos usar mais uma vez a pandemia para falar de outro assunto muito importante, a inflação.
Como já comentamos em outros momentos, a inflação é o nome dado ao aumento dos preços de produtos e serviços[1]. Para calcular a inflação, as instituições[2] usam como referência os chamados índices de preços, também conhecidos como índices de inflação (como por exemplo: IPCA, IGP-M, INPC etc.). Esses índices têm o propósito de medir a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços consumida pela população. Assim, antes de calcular o índice de preço, as instituições de pesquisa precisam verificar o que a população consome com mais frequência e quanto do rendimento familiar é gasto em cada produto ou serviço, como: arroz, feijão, passagem de ônibus, material escolar, médico, cinema, entre outros. Ou seja, os índices de inflação consideram a variação de preço de cada item e o orçamento das famílias.
De modo geral, a inflação pode ter causa monetária (excesso de dinheiro em circulação), psicológica (os agentes do mercado ajustam os preços porque acham que os outros agentes vão ajustar) e real (desajuste entre a oferta e a demanda por bens e serviços). No nosso painel de hoje, vamos nos limitar a comentar apenas sobre a causa real da inflação e, para isso, vamos usar como exemplo a polêmica relacionada às compras de seringas e agulhas para vacinação da população.
Antes da pandemia, as empresas produtoras de seringas e agulhas tinham um planejamento produtivo capaz de equilibrar a oferta do produto no mercado, com a sua respectiva demanda. Para manter esse equilíbrio, as empresas produtoras vendiam os produtos a um preço que podemos considerar como “justo”, pois os valores pagos pelos compradores (demandantes) poderiam ser considerados adequados e o valores recebidos pelos fabricantes (ofertantes) eram capazes pagar os custos de produção e ainda gerar lucro. Essa situação se mantinha ao longo do tempo, mas com pequenas variações nos preços praticados, em função de oscilações sazonais nas demandas.
Mas com a possibilidade do desenvolvimento de uma vacina para combater a Covid-19, essa relação de equilíbrio entre a oferta e a demanda de seringas e agulhas poderia ser quebrada. Para se ter uma ideia, em maio de 2020, o ex-diretor da agência de saúde Biomedical Advanced Research and Development Authority (Barda), enviou um documento ao governo americano alertando sobre a necessidade de compra de seringas e agulhas para uma possível vacinação em massa da população americana. Pois, caso a vacina lograsse êxito, haveria falta dos produtos, podendo comprometer o processo de imunização da população.
Com a evolução positiva no desenvolvimento das vacinas, os governos do mundo todo começaram a fazer pedidos de compras de seringas e agulhas. Esse aumento “repentino” da demanda dos produtos, acabou quebrando o equilíbrio existente, em função da capacidade limitadas das empresas fabricantes ofertarem os produtos. Ou seja, houve um aumento significativo da demanda, mas as empresas não tinham capacidade de aumentar a oferta de produtos na mesma proporção. Essa situação de desequilíbrio levou a um forte aumento no preço das seringas e agulhas. Situação que já era de se esperar, pois o equilíbrio entre a oferta e a demanda deveria ser reestabelecido e isso somente seria possível por meio do aumento da inflação no preço dos produtos. O que deveria levar, consequentemente, a uma redução na demanda.
Como já sabemos, a redução na demanda por seringas e agulhas não ocorrerá tão cedo. Pois o processo de vacinação está apenas começando nos mais diversos países. Assim, os países que ainda não fizeram a compra desses produtos terão que pagar mais caro e ainda esperar a fabricação dos produtos. Situação em que o governo brasileiro está sentindo na pele.
Esse é apenas um dos vários exemplos de aumento de preços de produtos. Com a pandemia em escala mundial, o equilíbrio entre a oferta e a demanda de boa parte dos produtos mudou. E esse será um dos maiores efeitos colaterais nas economias mundiais. A inflação em escala mundial reduzirá, principalmente para a população mais pobre, a capacidade de compra de bens essenciais para a manutenção da vida. Esse poderá ser o mais perverso efeito colateral da pandemia.
Essa situação, portanto, demonstra a importância do planejamento. Precisamos estar atentos aos sinais apresentados pelos mercados para tomarmos as decisões certas, no momento correto. Como já dizia o provérbio chinês, “espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier”.
Até o nosso próximo encontro!
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. Victor de Mello Valério
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).
O painel de educação financeira é uma parceria do programa Conexão Itajubá com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira (DENARIUS UNIFEI).
https://www.facebook.com/denarius.unifei/
[1] Definição proposta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Inflação. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/inflacao.php#:~:text=Infla%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20o%20nome%20dado,pre%C3%A7os%20de%20produtos%20e%20servi%C3%A7os
[2] Como por exemplo: o IBGE, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), entre outras.