Foi em 2013. Ele se levantou como nos outros dias, tomamos café como sempre e eu saí antes dele. Ele iria a São Paulo para a Banca de Mestrado de uma ex-aluna muito querida. Era uma quinta feira e eu tinha um paciente muito grave no consultório, que não poderia ficar sem atendimento. Foi a segunda ou terceira vez que não viajamos juntos.
Depois que tudo acontece é que a gente percebe as razões.
Ele me pedia sempre que, caso ele tivesse um mal súbito, eu não o levasse ao hospital. Que eu me sentasse ao seu lado e conversasse com ele: falasse de amor, de perdão, de saudade, que são todas coisas de que nós todos carecemos, especialmente quando estamos nos despedindo.
Eu lhe respondia sempre que prometer isso era demais pra mim.
Então, não era eu quem estava ao seu lado quando o cérebro dele falhou. Para sempre: ele não disse nem mais uma palavra até morrer.
Às vezes penso que foi providencial não estarmos juntos naquele momento. Não sei até hoje o que eu faria, se suportaria não leva-lo ao hospital no outro lado da rua.
Quando cheguei foi muito fácil perceber que nada poderia ser feito por ele na UTI onde ele estava. Foi fácil pedir que lhe dessem alta para que eu o trouxesse para o Hospital (na época, Escola) de Clínicas de Itajubá.
Lá ele ficou por exatos 13 dias. 13 sempre foi um número mágico para ele. Lá os amigos o visitavam todos os dias, meus filhos, de perto e de longe ficaram com ele, lá cantaram para ele (D. Nair e sua voz de anjo, com o Maestro Amauri ao violão).
Estranho dizer, mas lá ele foi feliz como fora todos os anos que viveu em Itajubá.