Belo Horizonte – Uma criança com deficiência ficava sozinha em casa. Era tão mal cuidada que chegava a comer os restos de comida jogados na pia da cozinha. A denúncia de um vizinho fez com que essa situação mudasse. O caso chegou ao Conselho Tutelar, por meio do Disque Direitos Humanos, da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedese). Final da história: a criança foi encaminhada a um abrigo, onde ficou quatro meses. Lá, foi medicada e recebeu atendimento psicológico. A mãe também recebeu apoio psicológico, foi orientada e envolvida em programas sociais e, com isso, até recuperou a guarda do filho.
O balanço do Disque Direitos Humanos (0800 031 11 19) revela que os mineiros estão denunciando, cada vez mais, os crimes contra crianças e adolescentes. O número de denúncias recebidas no primeiro trimestre deste ano foi superior em 84% ao do mesmo período do ano passado. Foram 1005 relatos recebidos de janeiro a março de 2010, contra 547 em 2009.
O aumento das denúncias é expressivo para um início de ano, de acordo com o coordenador do serviço, Jorge Noronha. Para ele, a divulgação da campanha “Proteja Nossas Crianças” reforçando o número do Disque como ferramenta para denúncias, mantém o tema sempre em pauta. O Disque Direitos Humanos atende ligações de todo o Estado, é gratuito e mantém a identidade do denunciante preservada.
“Tem que denunciar mesmo, senão fica escondido. As pessoas não podem ter medo de falar porque senão as crianças continuam sofrendo. Temos que estar cientes de que este é um papel de todos nós para promover também os direitos da criança e do adolescente. Se você for conivente, de alguma forma você também estará exercendo uma forma de violência,” ressalta a assistente social Maria Célia.
Há três anos, ela coordena, em Belo Horizonte, um abrigo onde estão crianças e adolescentes que foram retirados dos pais ou responsáveis legais porque estavam em situação de risco. Ela diz que vários casos foram resolvidos com o Disque Direitos Humanos. “Temos muitos casos com retorno positivo. Um caso de negligência foi o que mais marcou. A mãe não estava em condições de cuidar das crianças. Mas, depois que elas ficaram abrigadas, foi feito um trabalho com o pai, que conseguiu a guarda delas” disse.
O relatório do serviço aponta ainda que os crimes de violência física intrafamiliar (316) e negligência e abandono (296) se mantêm no ranking dos mais denunciados. Os dois tipos somam um aumento de 52% quando comparados os números do primeiro trimestre deste ano (612) com os do primeiro trimestre do ano passado: 402. Violência sexual intrafamiliar, exploração sexual extrafamiliar, violência psicológica e violência física engrossam a lista das denúncias.
O conselheiro tutelar Samuel Pereira da Costa conta que recebe muitas denúncias de abuso sexual e fala do caminho percorrido após o relato ao Disque Direitos Humanos. “Vamos ao local para verificar a situação. Se constatado o crime intrafamiliar, por exemplo, logo temos que tomar providências para que as crianças que residem na casa sejam afastadas do abusador. E o crime encaminhado para a delegacia especializada”.
“A denúncia é muito importante para acabar com a caixa preta que acontecia na família. Muitas mulheres passavam por isso e não tinham com quem falar. Às vezes, uma mãe também já foi abusada e, na época, não tinha para quem contar. Tem que denunciar e o abusador ser responsabilizado”, destacou Samuel.
As denúncias são encaminhadas para os conselhos responsáveis, delegacias e redes de assistência. O principal veículo que apresenta o Disque Direitos Humanos para os mineiros é a campanha Proteja Nossas Crianças, que procura envolver a sociedade civil e mobilizar a população a denunciar os casos de violência.
Proteja Nossas Crianças
No ano passado, a campanha realizou mais de 130 blitze educativas em todas as regiões mineiras para distribuir cartazes, adesivos e panfletos que enfatizam o número do serviço. Mais de 95 mil veículos e cerca de 59 mil pessoas foram abordadas pela equipe da Campanha.
Neste ano a campanha realizou sua primeira ação educativa, na semana do Carnaval, em 25 municípios. Na estreia das blitze, em fevereiro, a campanha abordou cerca de 18 mil pessoas e mais de 21 mil veículos. As próximas ações estão previstas para o mês de maio.
Fonte: Agência Minas