Não me entendam mal: não sou contrária à alegria e ao congraçamento entre os membros das famílias; não sou contrária à generosidade que brota nas pessoas nesta época e que faz com que idosos e crianças abandonados durante o ano inteiro sejam lembrados com presentes e comidas; não sou contrária a que se estimule nas crianças, enquanto elas puderem acreditar, no sonho do Papai Noel e as suas renas (verdade que, depois de mais de quinhentos anos, a gente bem que já poderia ter criado também um Natal brasileiro que fosse comemorado com emoção igual ao do europeu)…
O Natal do qual eu gosto e sobre o qual estou escrevendo é o Natal do nascimento anual da esperança na vida!
No hemisfério norte onde a tradição do Natal cristão metamorfoseou as tradições pagãs, muito mais antigas, o dia 25 de dezembro marca o solstício de inverno (o mais longo dia de frio, a partir de quando o sol, uma forte presença no hemisfério sul, se dirige lentamente para o norte, derretendo a neve e prometendo fartura nas próximas colheitas).
Fica fácil compreender o símbolo de renovação da vida que, nos povos antigos, o sol e os alimentos da terra representavam, não?
Fica igualmente fácil compreender que a crença no Pequeno Menino numa manjedoura, frágil, ainda distante do momento em que irá fertilizar o espírito das pessoas, seja a imagem perfeita para substituir a força, o brilho e o poder do sol na alma dos nossos ancestrais.
É deste natal que estou falando: da brotação renovada da esperança, da crença na bondade, da lembrança do amor mais do que do ódio…
É deste natal que gosto, e é apenas a este que confiro importância: o natal do silêncio no interior do coração de cada um de nós, da renovação pessoal do compromisso de amar e se dedicar ao Outro, principalmente quando o Outro sofre, quando o Outro tem fome e frio no corpo ou na alma.
É este o natal que eu espero chegar com ansiedade todos os anos: o natal em que poucos comprem presentes vistosos na lojas, mas todos presenteiem os seus próprios corações com pacotes e pacotes de Amor!