Por Dra. Graça Mota Figueiredo/Do divino que há em nós
O país inteiro fala do dia das crianças, quando ele se aproxima.
Lojas se enchem de brinquedos para elas, e eles somem a velocidades incríveis.
Importa pouco que muitas crianças não cheguem a ganhar o que desejaram, até porque hoje se desejam muito mais coisas caras do que coisas importantes.
Mesmo assim, o dia das crianças se sustenta e se multiplica ano após ano e caixas e caixas envoltas em papel brilhante e laços coloridos são levadas para as casas e servem, muitas vezes, apenas para acumularem poeira nas prateleiras cheias de brinquedos semelhantes.
Porque as nossas crianças modernas não brincam mais como nós. Enterram os narizinhos nos aparelhos eletrônicos e pouco se comunicam entre si ou com os adultos.
Teremos logo uma geração de adultos para quem será difícil a interação entre pessoas. Pior: talvez fique difícil também a empatia, esse sentimento que se forma apenas na convivência.
E aí, o que será dos nossos idosos? O país envelhece rapidamente, e até agora pouco ou nada se fez para cuidar deles, que são responsabilidade dos adultos: os adultos da família, os adultos do governo, os adultos das instituições. Ninguém parece se importar com a penúria em que viverão os nossos velhos das classes menos privilegiadas.
As nossas crianças serão adultos cada vez mais isolados dos seus semelhantes em pouco mais de 10 ou 15 anos.
Quase nada acontece hoje, quando se trata de mudanças culturais e planejamento coletivo.
E no futuro, as nossas crianças saberão muito pouco sobre as perdas, a fragilidade, sobre as dores. Nós não as estamos preparando para o cuidado, pobres delas.
E pobres de nós mesmos, quando necessitarmos de empatia e de atenção.
Seremos fardos amargos de carregar.
Nesse dia das crianças, quase nada me faz feliz!