” Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco do barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito, apareceu-lhe Júpiter.
Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. […] Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome. […] surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois esta fora feita do […] corpo da Terra.
[…] De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão, que pareceu justa:
‘Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte desta criatura’.
‘Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando esta criatura morrer’.
“Mas como você, Cuidado, foi quem por primeiro moldou a criatura, ela ficará sob seus cuidados enquanto viver’.
‘E uma vez que entre vocês há acalorada discussão […] esta criatura será chamadaHomem, isto é, feita dehúmus,que significa terra fértil“.
O nosso mito cristão da Criação não difere muito do mito grego, e isto não é nenhuma surpresa! Os mitos representam as grandes verdades da humanidade, contadas e recontadas ao sabor das religiões ou apenas do nosso desejo de compreender os Mistérios.
Mito grego ou mito cristão, a verdade é a mesma: o Cuidado é divino.
Quando cada um de nós, no silêncio e na simplicidade da sua vida pessoal dá importância a um animal, a uma pequena planta, a uma pessoa que sofre, a uma criança sem amor, a um idoso sem esperança, ao planeta Terra, cada um desses pequenos atos é divino.
Boff (idem, pág. 33)continua nos lembrando: “Cuidar é mais do que um ato; é umaatitude.Portanto, abrange mais do que ummomentode atenção, de zelo e de desvelo. Representa umaatitudede ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”
É preciso ainda falar mais? Penso que não: a reflexão se faz no silêncio…