Desde que os advogados de Lula conseguiram que ele viajasse a Roma para ver o Papa, começou a celeuma em todas as mídias.
Quero deixar claro que não sou petista, lulista ou católica. Portanto, o que penso e o que digo não é partidário.
Tento apenas ser ética e justa.
Com o encontro de Lula com o Papa, não podemos nos esquecer que não se encontraram dois políticos de carreira, e nem representaram, nesse encontro, qualquer país ou tendência secular.
Encontraram-se um Papa, representante maior de uma religião mundial e uma pessoa que, como tantas, desejam vê-lo e serem fotografados ao lado de alguém de destaque. Como cantores famosos e seus fãs.
Tenho lido opiniões que, a meu ver, revelam ignorância ou, pior, má fé. Pessoas dizem que o Papa perderá prestígio no Brasil, que ele é de esquerda como foi na Argentina, que decepcionou muitos católicos no Brasil…
Um médico decepciona alguém, ainda que seja a vítima, quando cuida de um assassino em risco de morte?
Nosso Código de Ética nos recomenda que, no exercício da profissão, não nos deixemos levar por partidarismos, preconceitos ou até mesmo escolhas pessoais, mas cuidemos de qualquer pessoa que necessite, sob pena, se não o fizermos, do crime de omissão de socorro.
É claro que o papado não tem um Código de Ética como o dos profissionais de saúde, mas criticável seria, e muito (como já o foram no passado tantos Papas) que, no exercício das suas atividades, oficializassem ações condenáveis do ponto de vista ético. Temos a Inquisição e o Nazismo, apenas para lembrar dois dos horrores, para criticar com razão a Igreja que, pelos seus Papas da época, foram coniventes com a barbárie. Condenemos esses Papas, então, por traírem os princípios que se comprometem a cultuar.
Se Lula e seus advogados pretendem ou vão fazer uso político dessa visita, isto é lá com eles. E que, então, sejam criticados por seguidores e inimigos, porque a Ética é para ser respeitada por todos, sem exceção.
Ao Papa, por favor, para mostrarem inteligência inclusive, percebam que toca o dever e a obrigação de acolher a todos que o procuram indiscriminadamente. Aliás, todos sabemos que Lula foi recebido como pessoa comum e não como autoridade (se alguém tiver alguma dúvida, informe-se sobre o rígido protocolo do Vaticano).
E, de quebra, alguém já pensou como seria bom se Lula tivesse ido realmente como fiel contrito ao encontro do Papa e lá tivesse tomado a resolução de se redimir dos crimes que muitos dos nossos políticos compartilham?
Não se esqueçam que somos o 106o país em indicadores mundiais de corrupção, entre 180 países avaliados e que 2019 foi o segundo ano da pior nota na série histórica de medição de corrupção. Ou seja: estamos piorando em falta de vergonha! Desculpem, não imagino outro nome.
Bom seria se alguém como Lula, com o poder de convencer multidões, se arrependesse e levasse muitos políticos para uma postura mais séria.