O capítulo 20 do Evangelho de São Mateus ensina que o elemento central para seguir Jesus é o serviço gratuito à causa do Reino – sem recompensa alguma aqui na Terra –, pois Nosso Senhor assim falou aos apóstolos: “Quem quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor; quem quiser ser o primeiro, seja vosso servo. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”.
Em outras oportunidades, Jesus usou de muitas parábolas para explicar que nenhum serviço ao próximo pode excluir o amor e, sabemos, o amor sincero precisa irradiar paz e amizade aos irmãos necessitados.
Conta uma história que certa vez a água, o fogo e o amor resolveram percorrer uma grande floresta a passeio. Ao entrar na mata cerrada, o fogo fez logo um pedido: ‘Meus amigos, aqui tudo é confuso, com milhares de caminhos possíveis. Caso eu me perca, por favor, encontrem a fumaça e perguntem por mim. Toda fumaça é minha filha e lhes dirá onde poderão me achar’.
A água, praticamente repetiu a mesma coisa, dizendo: ‘Onde encontrarem a umidade, perguntem por mim. Ela é minha amiga íntima e lhes indicará onde estou’. E o amor, por sua vez, falou: ‘Como não tenho ninguém conhecido por perto, não posso me afastar de vocês. Caso eu me perca, jamais me encontrarão’.
Assim, a água e o fogo resolveram colocar o amor como guia de todo passeio que faziam e sempre o seguiam, sem nunca se perderem. Muito satisfeito com a confiança nele depositada, o amor, então, passou a conduzir os amigos por caminhos cada vez mais seguros.
A mesma lição precisa periodicamente ser repassada em nossas vidas. A partir do momento que perdemos o amor, o nosso serviço a Deus fica em segundo plano e tudo contribui para nos levar aos caminhos do pecado. Por isso, quem quiser ser um grande servo do Reino, nunca se afaste do amor fraterno em favor de muitos e não se perderá.
Porém, sabemos que é impossível conviver em paz com os irmãos sem exercitar o perdão. E há pessoas que dizem amar o próximo como a si mesmas, mas, quando ofendidas, guardam mágoa para sempre! Não foi isso que Jesus nos pediu para bem servi-lo.
Contam ainda que depois de um dia de caminhada pela mata, mestre e discípulo retornavam ao lar e, passando por um arbusto, ouviram um gemido. Acharam, então, um homem agonizante com uma grande mancha de sangue próxima ao coração e, com muita dificuldade, o carregaram para um casebre rústico, onde trataram do ferimento.
Uma semana depois, já restabelecido, o homem lhes contou que havia sido assaltado e, ao reagir, fora ferido por uma faca. Disse também que conhecia o agressor e que não descansaria enquanto não se vingasse. Então, se dirigindo ao mestre, falou:
– Senhor, muito lhe agradeço por ter salvo a minha vida. Agora, vou ao encontro daquele que me atacou e fazer com que ele sinta a mesma dor que senti.
O bondoso sábio olhou fixo para o homem e disse:
– Vá e faça o que deseja; entretanto, devo informá-lo que me deve três mil moedas de ouro, como pagamento pelo tratamento.
O homem ficou assustado e exclamou:
– Senhor, é muito dinheiro! Sou um simples trabalhador e não tenho como lhe pagar esse valor!
– Se não pode pagar pelo bem que recebeu, com que direito quer cobrar o mal que lhe fizeram? Antes de se vingar, procure saber quanto ainda deve! E não faça cobranças pelas coisas ruins que lhe aconteçam na vida, pois, com certeza, você vai pagar muito mais caro.
Pois é, pode ser muito difícil perdoar certas atitudes de terceiros, mas, se Deus não nos perdoasse, como chegaríamos ao Céu? O perdão que Ele nos concede a cada confissão não é gratuito e fundamentado no amor que tem por nós? Portanto, para sermos imensamente gratos e merecermos receber outras graças, precisamos fazer o mesmo!
Além de rezar diariamente pelas centenas de intenções que mantenho escritas no meu oratório, peço a Virgem Maria que me ajude a continuar aceitando os chamados de seu Filho, Jesus. E essa ajuda sei que vem através da minha perseverança na Igreja e consequente crescimento na fé.
É claro que sem boa saúde, paz na família e fé no coração, fica muito mais difícil assumir uma missão de evangelização. Sabendo disso, conto com a força do Espírito Santo para continuar falando das maravilhas do Senhor, porque também já precisei de ajuda e Nossa Senhora colocou as pessoas certas no meu caminho.
Amando e perdoando, o nosso fardo fica muito mais leve e, sem cobrar nada, sempre caberá mais um às costas.
Paulo R. Labegalini
Cursilhista e Ovisista. Vicentino em Itajubá. Engenheiro civil e professor doutor do Instituto Federal Sul de Minas (Pouso Alegre – MG)