Tenho uma amiga judia que me enviou um texto do Rabino Shlomo Buxbaum escrito por ocasião do início deste Ano Novo judaico:
“A maioria de nós considera a respiração garantida, como algo que acontece automaticamente. Mas na medida em que nos aproximamos de Rosh Hashana e olhamos para trás, vemos que no ano judaico de 5780 o foco foi justamente a respiração.
Esse ano será lembrado como o ano dos respiradores e das máscaras que inibem nossa respiração; esse ano será lembrado como o ano em que fomos forçados a diminuir o ritmo das nossas atividades diárias e apenas… respirar. E com cada respiração aprendemos um pouco de humildade, a renunciar ao controle, a encarar e aceitar cada dia como ele vem, e viver um pouco mais do presente.
Para muitos que sofreram perdas, traumas ou decepções, 5780 será lembrado como um ano de desafios e de dores. Mas muitos se lembrarão deste ano como aquele que os tirou do transe da vida diária repetitiva, com a chance de aprender como se focar no que realmente importa, de conhecer melhor as suas famílias e a si mesmos, o ano que nos ensinou como respirar de verdade.
Em Rosh Hashana há um mandamento de tocar o Shofar, a única mitzvah que é cumprida usando a respiração. Os toques do Shofar marcam o aniversário da humanidade, quando D’us “soprou” nas narinas do homem a sua alma, dando-lhe o “fôlego da vida”. Respiração é um símbolo da alma, pois ambas compartilham uma raiz comum judaica: a palavra para alma, “neshama”, é quase idêntica à palavra “neshima”, respiração. Não é de se admirar que nos tornamos mais conscientes dos níveis superiores da nossa alma, diminuindo a velocidade e nos concentrando na respiração.
O toque do Shofar nos ensina como descobrir a nossa alma. O Shofar não é nada mais do que uma concha oca, mas transforma um sopro fugaz em um poderoso grito de vitória. Quando nos tornamos ocos, abandonando nossos egos e renunciando à falsa sensação de controle, só então podemos experimentar plenamente a essência espiritual que está dentro de nós.
Assim como o Shofar não tem voz se não for soprado, nós não temos nenhum poder interno além dos que D’us nos dá. Esse ano que passou nos ensinou a enxergar isso com mais clareza. Vimos como nossa vida inteira pode mudar rapidamente e como o mundo inteiro pode ser lançado ao caos. Percebemos que a maioria das estruturas externas que construímos são realmente ocas e impotentes, assim como o Shofar. Aprendemos que sem respiração – sem uma conexão espiritual, sem relacionamentos significativos, sem crescimento pessoal – nossas vidas podem se tornar muito vazias rapidamente.
Ouvir o grande toque de Shofar nesse Rosh Hashana, é uma linda oportunidade de levar conosco para o ano, o lembrete de quem está realmente no controle e aprender a respirar de verdade.”