A Resolução 1995/2012 recomenda a todos os médicos do país, qualquer que seja a sua especialidade, que respeitem as determinações dos pacientes no que se refere á decisões a respeito do final das suas vidas.
Explico: se o doente não quiser ser levado à UTI, se não quiser ser submetido a uma cirurgia extensa, se não se dispõe a enfrentar um longo e doloroso tratamento de câncer, ele tem o direito de declarar o seu desejo com clareza, e os médicos são obrigados a respeitar esta decisão, ainda que contra o seu próprio julgamento. Isto tem sido chamado de Diretivas Antecipadas de Vontade, ou Testamento Vital.
É claro que, dito desta forma, parece apenas que o poder de decisão sobre os tratamentos médicos mudou de mãos: bandeou-se do controle exclusivo do profissional para o controle do doente, sem que este tenha o conhecimento necessário para tomar decisões de tamanha importância.
Na verdade esta Resolução, que acompanha o clamor da sociedade por uma medicina mais partilhada entre médicos e doentes, vem corrijir uma injustiça social que não mais se justificava.
Em nome de um conhecimento técnico de difícil obtenção, é verdade (é preciso um número muito grande de anos para que se forme um bom médico), profissionais tomavam decisões relativas à vida e à morte de outros seres humanos sem consultá-los, sem ouvir as suas dores, os seus medos, as suas dúvidas e esperanças.
Por terem se esquecido do valor da comunicação, médicos se escondiam atrás da ideia de que doentes não sabem nada sobre medicina e decidiam por eles a prolongar-lhes a vida, em situações no mais das vezes desumanas, e geralmente contra o desejo do doente e da família.
É claro que não estamos falando de indivíduos saudáveis que sofreram um agravo súbito! Nestas situações justifica-se eticamente o esforço pelo retorno à normalidade: o organismo é saudável e terá as melhores condições possíveis de cuidar de si mesmo quando voltar ao estado anterior ou próximo dele.
Mas não se pode dizer o mesmo de pessoas com doenças crônicas, cujo organismo encontra-se devastado pela doença, onde os esforços de cura têm trazido intenso sofrimento físico, angústia, solidão, e que já se prolongam há tempos, sem um resultado ao menos razoável.
É a estas pessoas que o Conselho Federal de Medicina garante o compartilhamento da decisão de continuar o tratamento da doença de base ou parar com os esforços de reversão da doença, recebendo entretanto todo o cuidado humano e amoroso a que todo ser humano faz juz…
É a estas pessoas que se convida agora a que ensinem aos médicos a respeitar a ordem da Natureza, para a qual nascer e morrer são momentos igualmente dignos e merecedores de respeito!
Muita discussão vem por aí, mas certamente está inaugurada a Era do Respeito ao Ser Humano!