“Sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”
Winston Churchill
Você se lembra de todas as vezes em que precisou avaliar suas decisões econômicas sob o ponto de vista do “devo ou não devo comprar”? Em muitos casos você deve ter encontrado “boas razões” para mudar um eventual “não devo” por um “acho que posso levar”.
Pode ter sido o dia do mês, a grana extra que entrou em sua conta ou até mesmo uma compra que você adiava há muito tempo. Não importa, você simplesmente se blindou com uma desculpa (esfarrapada) para evitar o confronto com a realidade: seria melhor adiar a compra e dizer “não” ao seu impulso de consumo.
Tomamos decisões assim porque vemos no consumo uma forma de inclusão social. Valorizar o status proveniente das posses cria nas pessoas imagens sobre quem somos e o que possuímos. Na prática, a realidade é outra: na maioria das vezes compramos produtos dos quais não precisamos, com um dinheiro que não temos para impressionar quem menos gostamos. Ou não?
A questão que preocupa está relacionada com a incapacidade de cada um em estabelecer limites e, principalmente, prioridades. Objetivos bem traçados e alimentados geram motivação suficiente para que se diga “não” ao impulso, evitando que o ciclo vicioso das dívidas domine o ambiente familiar.
Em seu ótimo livro “As Armadilhas do Consumo” (Ed. Campus, Coleção ExpoMoney), Márcia Tolotti descreve o caminho percorrido por aquelas pessoas sem perspectiva e com suas receitas comprometidas: quando combinados o desejo de satisfação cada vez mais alto e à incapacidade de lidar com a frustração, o resultado é o endividamento.
Em outras palavras, quando desejamos cada vez mais, mas sem a contrapartida de saber esperar (ter paciência), acabamos por comprar tudo o que vemos pela frente usando dinheiro emprestado (financiamentos, compras parceladas, cartão de crédito etc.). O perigo está em justificar tais decisões de consumo através de comentários ingênuos e maquiando a realidade financeira da família.
Se você se vê envolvido em dívidas e também relações familiares motivadas pelo consumo, sugiro que experimente adotar mais o “não” em seu dia a dia. Diga “não” à falta de objetivos e planejamento financeiro; “não” ao consumismo; “não” à constante busca por reconhecimento através de suas posses.
Simplifique! Não queira que todos gostem de você. Prefira que todos respeitem seu modo de ser, suas qualidades e defeitos. Familiares e amigos muito próximos normalmente tendem a enxergar as finanças como um tabu, o que torna o relacionamento financeiro bastante desgastante.
Quase sempre, falar “não” passa a ser somente uma importante atitude de sobrevivência quando deveria ser a porta para um diálogo verdadeiramente sincero em seus propósitos. Lidar com a frustração não é algo ruim, desde que esse processo seja visto como uma oportunidade de crescimento e amadurecimento.
O grande problema é que, quase que por instinto, acabamos falando mais do que um simples “não” e o momento de reflexão passa a ser apenas mais um grave e longo desabafo. Acabamos, involuntariamente, “cuspindo” verdades entaladas por tempos em nossos corações. O “não” vira uma lição e o relacionamento passa a ser criticado pelo negativismo e não pelas verdadeiras razões para a negação financeira.
Na outra ponta, ouvir um “não” desperta reações intempestivas, frequentemente levadas para o lado pessoal. O filho passa a tratar mal seus pais porque não teve seu desejo atendido; o marido muda seu comportamento quando a esposa recusa seu ponto de vista; o ego se ressente quando um objeto de desejo é deixado de lado.
Entenda que lidar com a frustração é aceitar que nosso cotidiano não é feito apenas de momentos edificantes e gloriosos. O erro frequente consiste em tentar compensar a dura realidade dos dias (trabalho, estresse, contas etc.) transformando o consumo e o gasto com supérfluos em terapia. Além de não funcionar, prejudica ainda mais o fluxo de caixa mensal, levando o problema financeiro a níveis mais perigosos.
Volto a insistir na importância das metas. Adiar consumo só será uma alternativa considerada interessante se você tiver boas razões para deixar de passear tanto no shopping. Comprar a casa própria, investir em formação e carreira (estudar, viajar etc.), trocar de carro, garantir uma boa aposentadoria, conhecer a praia, o que interessa é descobrir e alimentar os sonhos que fazem seus olhos brilharem.
Seja coerente e consistente com estes sonhos, mesmo que isso incomode parte de sua família ou círculo de amigos. Cuidado, no entanto, para não confundir-se com minhas palavras. Não se trata de dar mais valor ao dinheiro, mas de dar real valor à família. Afinal, que família é essa que só valoriza o que tem quando isso significa ter e gastar dinheiro? Não soa estranho vermos pais e mães que nunca dedicaram parte de seu tempo para ensinar os filhos a valorizarem suas finanças pedindo a eles dinheiro emprestado?
É triste notar que muitas famílias brigam mais pelo dinheiro que pela fraternidade entre seus elos. Tudo porque somos péssimos em aceitar a ideia de que gastar menos do que ganhamos e poupar para o futuro é um dos caminhos mais inteligentes para o sucesso financeiro.
De forma geral, somos poucos inflexíveis porque ouvir um “não” incomoda mais do que deveria. Felizmente, aprendi que o “não” é mais importante que o “sim” na valorização daquilo que conquistamos. Encarar as frustrações como desafios encurta a distância até o merecido sucesso.