Na última semana o que tomou as manchetes dos jornais do mundo todo e ainda faz parte das rodas de conversa é o ataque terrorista à revista Charlie Hebdo, que levou à morte 12 cartunistas, entre eles alguns dos mais consagrados no ramo.
Em outro canto do planeta. nas últimas duas semanas o grupo terrorista Boko Haram fez 2 mil vítimas na Nigéria. Ninguém ouviu falar disso. Nenhum líder mundial marchou por aquelas vidas perdidas. Em 16 de dezembro do ano passado um ataque terrorista no Paquistão matou 140 jovens em uma escola. Ninguém se pronunciou. Também do grupo Boko Haram, uma menina-bomba de 10 anos se explodiu no noroeste da Nigéria, matando 20 pessoas em um mercado.
O Brasil não fica atrás da violência. Segundo o último levantamento feito pela ONU, em 2012, 10% dos homicídios no mundo acontecem no Brasil, cerca de 47 mil em um total de 475 mil em um ano.
O que se percebe é que a vida de pessoas ricas e bem sucedidas são de alguma maneira mais valiosas que a de outras pessoas que caminham na periferia do mundo capitalista. Segundo a psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina de Itajubá, Dra. Graça Mota Figueiredo, essa é a atual realidade, é realmente muito triste, mas hoje se pensa no valor da vida humana a partir desta reflexão que divide o mundo entre os que podem e os que não tem quem fale por eles.
Do ponto de vista da psiquiatria, se tenta compreender a mente humana a partir de dois planos, o consciente e o inconsciente. No consciente vive toda parte civilizada do ser humano e no inconsciente imperam os instintos. É como se dentro de cada pessoas restassem partes primitivas, infantis de si mesmo. No inconsciente, se uma pessoa não gosta de outra ela irá querer que ela desapareça.
Vendo isso de uma maneira simplória, parece simples de controlar tais instintos, no entanto, existem condições propícias para que esses instintos venham à tona com mais frequência. São fatores propícios condições de vida precárias, ambiente com poucas regras ou regras fluidas, pessoas convivendo continuamente com exemplos negativos ou com o fato de que grandes criminosos, desde que tenham poder e dinheiro estão acima da Lei.
Nessas situações cada vez mais comuns no mundo moderno que insiste em segregar aqueles menos favorecidos na periferia, há um ambiente propício para que os instintos mais primitivos venham com força. É claro que a desigualdade social sozinha não pode ser responsável por todo peso dessa eclosão de violência, mas ela é uma porta aberta para uma série de outros fatores que juntos propiciam uma “justificativa” para fazer o que a sociedade não faz por aqueles que ficam na margem.
Quando se está em um meio onde há líderes corruptos, onde a morte está presente até mesmo no passatempo do jogo ou de um filme, essa situação só alimenta os instintos. Isso reverte o sistema de recompensas de uma sociedade ser dar uma alternativa como ponto de apoio, ou seja, alguns valores são impostos sem que as pessoas tenham reais condições de alcançar pelas vias corretas, por exemplo, “ser rico é a melhor coisa” ou ter “poder é o máximo que uma pessoa pode querer”.
Nada disso está errado, o problema está na falta do “para que?”. Ser rico para que? Ter poder com que intuito? O desejo existe, mas não a finalidade. Olhando por esse ângulo, falta na sociedade a espiritualidade, um valor espiritual que dê sentido à vida. Faltou valor à revista que ofendeu uma religião inteira. Faltou valor ao grupo terrorista que tirou a vida daqueles cartunistas. Não há justificativa para nenhuma das ações.
Fonte: Conexão Itajubá / Panorama FM