Marco Tullio teve um acidente vascular cerebral grave na quinta feira passada, em São Paulo. Ele estava lá a contragosto, e apenas uma ex-aluna querida como a Clarinha o levaria de volta (por um dia apenas) para compor a sua Banca de Mestrado.
Ele foi, encantou a todos como sempre, foi aplaudido por bastante tempo como de hábito, e em seguida o seu corpo se rendeu a uma pequena artéria no cérebro que se fechou…
E ele, o nosso “Contador de Causos”, se calou imediatamente e permanece calado desde lá.
Abre muito pouco os olhos, às vezes o olhar se fixa num rosto querido, às vezes nem percebe o chamado ansioso de um amigo.
Metade do seu corpo não obedece mais ao comando do cérebro, mas com a outra mão ele às vezes acaricia e se enlaça na minha como sempre fez quando nos sentávamos juntos no terraço de casa.
Ele ainda não sabe o que vai fazer em seguida. Talvez volte prá casa, talvez fique mais um pouco conosco, ainda que em silêncio.
Um amigo querido o viu hoje em outro plano: viu-o confuso, surpreso, como se não compreendesse o que lhe acontece, dizendo que tem muito ainda a fazer…
Eu tenho conversado muito com ele. Dizem que ele não ouve, não compreende nada nem reconhece ninguém; desculpem-me os meus colegas médicos, mas eu tenho lá as minhas dúvidas. Então, faço o que manda o meu coração.
Conto tudo o que acontece em volta a ele, caso ele queira saber; dou notícias, digo quem veio vê-lo, conto o que não tive tempo de contar quando corríamos os dois um prá cada lado na doidice do dia a dia… Isto me faz bem.
A dor e o medo da perda são imensos e eu não estou ainda preparada para enfrentá-los.
Vê-lo quieto, os olhos sem luz, as mãos inertes, o corpo sem movimento, tudo isto me assusta.
Vou acompanhá-lo, aceitando que ele vá para onde quer que ele pretenda ir, mas peço à vida um pouquinho mais de tempo.
Só um pouquinho…