INFLAÇÃO
De fato, saímos de um patamar de inflação de 10,67% em 2015 para 2,95% em 2017. Algumas pessoas questionam que não verificam esta redução em componentes importantes das suas despesas corriqueiras. Primeiro é importante entender estes números. Quando o IBGE diz que a inflação no ano de 2017 foi 2,95% com base nos cálculos do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) eleNÃOestá dizendo que todos os preços subiram apenas 2,95%, mas sim que na média os preços subiram 2,95%.
Neste ano de 2017 alguns produtos podem ter subido muito mais do que os 2,95% e outros muito menos, podendo ter até redução de preços. Por exemplo, em 2017 alguns preços subiram muito mais do que o valor calculado para a inflação. O gás de botijão subiu 16%, a energia elétrica 10,35% a gasolina 10,32%, planos de saúde e creches subiram de preço na ordem de 13%, por outro lado alguns itens alimentícios tiveram reduções expressivas nos seus preços, por exemplo, o feijão carioca que caiu 46%, os demais tipos de feijão também acompanharam com quedas expressivas de mais de 32%. O Inhame teve seu preço reduzido em 42% até mesmo produtos alimentícios industrializados tiveram reduções expressivas de preços. O leite condensado teve seu preço reduzido em 15,5%. De uma forma geral um grupo de componentes de consumo importante que contribuiu para a baixa inflação no ano de 2017 foi o de itens de alimentação no domicílio que tiveram seus preços reduzidos em quase 5%.
Além de importantes discrepâncias nas variações dos preços que irão compor o índice de preços cada item terá uma importância diferente no cálculo da média (ponderação ou peso). Itens que são mais relevantes nos gastos dos consumidores terão peso maior. Por exemplo, como já vimos em edições passadas do nosso painel o grupo de componentes de alimentação no domicílio possui um peso de 15,6%, sendo um importante componente das despesas, desta forma as variações de preços deste grupo terão impacto relevante no cálculo do índice. A gasolina isoladamente tem peso de 3,9% nos gastos dos consumidores, sendo também importante componente no cálculo do índice. Por outro lado, itens de pequenos valores ou que são consumidos por poucas pessoas possuem pesos pequenos, como por exemplo o agrião com peso de 0,02% ou o consumo de aparelhos liquidificadores com peso de 0,3%. Ambos itens representam baixa participação nos gastos dos consumidores seja pelo consumo muito esporádico ou pelos baixos valores em termos dos gastos totais. Nestes casos elevações ou reduções dos preços destes itens pouco afetarão os índices de inflação do IPCA.
Para definir qual o peso de cada item no cálculo do índice O IBGE realiza a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) onde durante um período de tempo acompanha o padrão de consumo de dezenas de milhares de famílias pelo Brasil. Desta forma descobre quanto dos rendimentos e da riqueza são gastos com cada item. Os itens mais relevantes em termos de gastos terão maior peso no cálculo da inflação. O IPCA se baseia em uma POF realizadas com famílias que ganham de 0 a 40 salários mínimos, ou seja, um amplo espectro da população.
Índices de preços específicos para classes de rendas menores ou maiores também são calculados pelo IBGE (INPC – calcula a inflação para famílias com rendimento entre 1 e 5 salários mínimos), IPEA e FIPE também possuem índices específicos, para classes altas e médias. Neste caso as ponderações mudam e tomam maior relevância aqueles componentes que são mais consumidos por cada classe de renda. Existe também o índice de preços do idoso calculado pela FGV, neste caso itens como cuidados com a saúde possuem um peso maior.
Taxa de Juros
Recentemente tem-se noticiado que o Brasil está com os níveis de juros mais baixos da história. De fato, quando falamos de juros pagos pelo governo quando este está tomando dinheiro emprestado as taxas são as mais baixas da história. A taxa de juros básica paga pelos empréstimos que o governo faz, conhecida como SELIC, está em 6,5% ao ano.
Mas e a taxa que o consumidor paga quando vai tomar dinheiro emprestado no banco, seja para um fim específico (recursos direcionados) ou para uso livre (recursos livres)? Estas de fato continuam altas, entre as maiores do mundo, constantemente figurando em primeiro lugar entre as taxas mais caras pagas no mundo.
Diversos fatores contribuem para a definição de uma alta taxa de juros. Primeiro devemos entender o que é o juros. Uma definição simples e intuitiva é pensar os juros como o aluguel do dinheiro. Quando não temos uma casa para morar temos a opção de alugar um imóvel e pagar pelo uso deste imóvel um valor que chamamos de aluguel. Quando não temos dinheiro para um determinado fim, podemos alugar este dinheiro e pagar pelo tempo que usamos este recurso que pertence a outra pessoa. No caso do “aluguel” do dinheiro o pagamento é chamado de juros. Inclusive, quando não temos um local para morar, uma opção é ao invés de alugar o imóvel alugar o dinheiro para comprar o imóvel, conhecido como financiamento imobiliário.
O que define então o valor do aluguel deste dinheiro? Mecanismos semelhantes ao de qualquer mercado. Os juros pagos nada mais são do que o preço do uso do dinheiro que pertence a outra pessoa. Por exemplo, se em uma cidade o número de imóveis desocupados é grande o valor do aluguel tende a cair, se há muito dinheiro sem um uso definido no mercado (parado) os juros cobrados por um possível uso serão baixos.
Além da oferta e da demanda outro fator importante é a segurança sobre sua propriedade. Se você não tem garantias de que terá seu imóvel devolvido de forma intacta o preço do aluguel tende a ser mais alto. Mas se tiver garantias este preço pode diminuir. O mesmo vale para a taxa de juros. Se há uma alienação de bem como garantia de um empréstimo a taxa de juros tende a cair.
Para estimular ou reduzir a oferta de crédito o Banco Central do Brasil, regulador do mercado financeiro, tem muitos instrumentos em mãos. Ele pode aumentar a oferta de dinheiro circulante, por exemplo, reduzindo a obrigação dos bancos em manter reservas (depósitos compulsórios), ou reduzindo a taxa que cobra para emprestar dinheiro para os bancos privados (taxa de redesconto). Além disto, pode comprar seus títulos de dívida, deixando mais recursos circulando nas mãos da população. Além da atuação direta na oferta de moeda, ele pode também exercer seu papel regulador do setor bancário estimulando a concorrência entre os vendedores do crédito ao público final, no caso, os bancos comerciais e financeiras.
Entender bem formação da taxa de juros final ao consumidor final é tema complexo e que exigiria algumas páginas de texto ou algumas horas de aula. Fica aqui um convite para os interessados comparecerem na 3ª Semana de Educação Financeira que será aberta ao público e irá acontecer entre 15 e 18 de maio na UNIFEI. Uma das palestras será dedicada somente a compreensão do tema.
Esse painel de Educação Financeira termina por aqui. No nosso próximo painel vamos retomar as dicas de orçamento doméstico.
Até lá!
Prof. Dr. Moisés Diniz Vassallo
Prof. Dr. André Luiz Medeiros
DENARIUS – Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento em Educação Financeira
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG)
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).