Dias assim me tornam nostálgica.
Mais do que nostálgica, pensando bem…
Existe alguma coisa de primitivo no homem moderno, em todos nós no terceiro milênio, que nos faz às vezes parecer homens e mulheres das cavernas.
Não é verdade que as forças da natureza nos amedrontam?
No entanto dominamos os céus e os mares como nunca, desvendamos mistérios astronômicos que mereciam dos primitivos reverências, como deuses que pareciam ser.
Marcamos data para colonizar outros planetas, curamos mais doenças do que nunca antes ocorrera, mas temos o mesmo terror primitivo do desconhecido, que tínhamos nos tempos antigos.
O vento, especialmente, me provoca um sentimento curioso de temor e fascínio como se ele tivesse o poder de me carregar e me deixar sozinha em algum lugar remoto e desconhecido.
A música que o vento toca quando um obstáculo se opõe ao seu caminho me parece um choro doído e amargo.
Parece haver uma dor primitiva no mundo, que emerge às vezes, temperada pela solidão.
Quando chega o vento, os pássaros se encolhem e emudecem, os bichos em casa e nas selvas se aquietam, procuram abrigo e silenciam. É como se sofressem todos com a dor que o vento espalha, como um perfume acre e persistente.
Eu, por mim, relembro todas as tristezas e as perdas que sofri.
Torno-me quieta e recolhida, e chego a quase sentir o arrepio do coração.
Choro muitas vezes, por mim e por todos os homens e mulheres que cumprem as suas etapas de crescimento neste pedaço de trajeto que nos cabe. Choro pela solidão que a alma nos impõe enquanto caminhamos. Choro pelo terror que o infinito nos causa. Choro pelo abandono com que a vida às vezes castiga pessoas. Choro pela beleza e pela ternura que encontramos escondidas em tantos pequenos lugares…
Mas choro, acima de tudo, pelo bálsamo que é o amor.