Em 2011, estava no início da minha segunda gestação, quando recebi a notícia que teria um filho com T21. Muito diferente da primeira, nesta gestação tive muitas intercorrências, o que levou a ser considerada de risco.
Sempre fui uma pessoa que buscava informações e como já tinha uma filha de 3 anos, sabia das más formações, condições genéticas, etc., que podiam ocorrer, mas jamais passou pela minha cabeça que isso poderia acontecer, pois não tínhamos (nem eu, nem meu esposo) casos na família e não fazia parte do grupo de risco. Porém, o diagnóstico estava ali e minha única preocupação na época era de que eu não seria eterna para estar ao lado do meu filho no que ele precisasse.
Vivi um luto do filho que idealizei e passei a aceitar o que Deus havia me confiado. Sim, sou cristã e durante toda a minha gestação tive certeza da presença de Deus ali comigo, em cada passo, e também de que o meu filho era um plano Dele em nossa família. Jamais rejeitei meu filho! O amei desde o momento que tomei conhecimento que o carregava em meu ventre.
Diante do diagnóstico, fui do luto à luta. Me preparar para ser a mãe que ele precisaria e que suprisse as necessidades dele em todos os sentidos, para que seu desenvolvimento fosse da melhor forma possível. Da forma como ele merecia, com muito amor e aceitação. Foi um mundo novo que se abriu para minha família.
Muito se fala de inclusão, mas a verdade é que em pleno 2024 as pessoas têm poucas informações sobre as deficiências. E essa desinformação vai desde os médicos que ainda não sabem dar a notícia, passando por terapeutas, escolas e comunidade de um modo geral.
A desinformação ainda é o maior desafio para uma vida inclusiva. Só amamos o que conhecemos. E para que as pessoas tenham uma vida “normal” em sociedade, é necessário retirar os rótulos, os “pré-conceitos”; deixar de definir as pessoas com deficiência pelo que “ouviu dizer” e assumirmos uma postura mais responsável e um olhar humano, onde ali eu enxergo um ser humano como eu, repleto de sonhos, alegrias, tristezas, limitações, como quaisquer outros. Olhar a pessoa e não a sua deficiência. “Normal” ninguém é; somos comuns e temos limitações.
Toda pessoa com deficiência já nasce sendo submetida à várias terapias, como no caso da T21, para andar, falar, comer, enfim, fazer tudo no tempo certo, igual às crianças típicas. É uma rotina puxada que requer amor, persistência e dedicação.
A maternidade levada à sério, não é uma missão fácil, mas a maternidade de uma mãe atípica é muito mais desafiadora, pois ela não tem muitas horas vagas no dia. Cada progresso, por mais simples que seja, é comemorado como vencer uma maratona. Passamos a ter um outro olhar sobre a vida, sobre as pessoas, sobre a nossa missão aqui na Terra. E durante esses anos que venho aprendendo a ser a mãe dos meus dois filhos.
Pela minha experiência, percebi que aceitar meu filho como ele é está muito acima de qualquer terapia que ele faça e posso dizer com o coração transbordando que ele veio muito melhor do que eu imaginava. Sou muito abençoada por tê-lo concebido.
Cristina Maria R. Gomes Sato
Mãe do Rafael Sato