Como toda entidade, o CFM comete erros.
Nem sempre são cometidos voluntariamente, mas trazem sempre algum dano. Geralmente há pouco efeito sobre a coletividade; afetam, quando ocorrem, a prática da medicina e as regras que regem o comportamento médico, mas pouco se refletem na sociedade.
Há erros cometidos por omissão, e esses são menos justificáveis, já que a ação principal do Conselho é zelar pelas boas práticas da medicina que chega ao público.
Isso é o que tem acontecido desde o início da pandemia.
O silêncio do órgão máximo de preservação da boa medicina no país tem sido quase vergonhoso há mais de um ano.
Se o silêncio preocupava, mais ainda preocupa ler as opiniões de seu presidente, Dr. Mauro Luiz de Britto Ribeiro, no Tendências/Debates da Folha de S. Paulo de 25.01.2021. Em lugar de defender a medicina baseada em evidências em favor dos pacientes, o texto ataca cientistas quando defende a autonomia médica.
Traduzindo, o Dr. Mauro diz que o médico tem autonomia para prescrever aquilo que entender como correto, mesmo condutas que não tenham qualquer respaldo científico. Ou seja, está permitido o “achismo” e a irresponsabilidade aos médicos.
O Dr. Mauro não diz uma palavra sequer de censura aos tantos médicos que publicaram nas redes sociais absurdos como “não tomem vacina”, “tomem este ou aquele remédio e não serão contaminados pelo vírus”. Houve até mesmo aqueles que “receitaram” nomes e dosagens de remédios questionáveis, sabendo do mau uso que poderiam fazer os não médicos que usassem essas prescrições, sem conhecimento dos efeitos colaterais maléficos.
O Dr. Mauro não censura em nenhum momento indivíduos sem nenhum conhecimento médico-científico (e, aparentemente, sem nenhuma assessoria responsável) que, usando do seu poder junto à população, cometem crimes deliberados de má informação.
Mas agora, e só agora, ele e o CFM, órgão que deveria ser respeitável, por delegação de todos nós, médicos conscientes desse país, vem a público chancelar todas as bobagens já ditas ou feitas por médicos e não médicos brasileiros!
E mais ainda: o CREMESP também, que como o CFM se omitiu durante toda a pandemia, vem a público criticar a iniciativa espontânea dos profissionais que, nos hospitais, sensíveis ao desespero das famílias encontram uma forma caridosa e humana de promoverem a comunicação entre eles por celulares, tablets, muitas vezes dos próprios funcionários.
Esses órgãos profissionais não me representam!