Passados os seis primeiros meses do novo governo federal temos uma melhor compreensão do que se passa e como podem ser os próximos meses e anos da economia do nosso país.
O novo governo chega junto com bons indicadores econômicos para o Brasil. Uma melhora ainda discreta, mas que se mostra consistente e ganhando força. Nos seis primeiros meses de governo alguns fatores da conjuntura econômica mundial assim como os esforços e mudanças de rumo promovidos pelo novo governo resultaram em bons indicadores econômicos.
Destaca-se a inflação que saiu de 10,06% em 2021 e 5,79% em 2022 para 3,94% acumulado nos últimos 12 meses e com perspectiva de fechar o ano na casa de 4,92% conforme previsões do último relatório de mercado Focus do Banco Central do Brasil (BCB). Destaca-se que a inflação controlada é resultado da conjuntura mundial com desaquecimento do processo na maioria dos países do ocidente, assim como na China além da irredutível posição do Comitê de Política Monetária do BCB que vem mantendo a taxa básica de juros (SELIC) no alto patamar de 13,75%, mesmo sob pressão do Planalto que busca uma redução como forma de estímulo aos investimentos, consumo e redução do custo de financiamento da dívida pública.
O PIB por sua vez surpreendeu com crescimento acima do esperado para o primeiro trimestre do ano e com perspectivas de fechar o ano com crescimento de 2,19% em contrapartida de uma previsão inicial na casa de apenas 1,5%. Outro ponto de destaque é o dólar que começou o ano cotado a R$ 5,48 e está sendo negociado esta semana no patamar de R$ 4,85, ou seja, indicando uma redução de 11,5%.
A política externa mais acertada do atual governo também trouxe uma onda de novos investimentos internacionais, em especial de países europeus e da China que enxergam o atual governo como alternativa muito mais estável segura e com princípios mais alinhados com os destes países. A entrada de capital estrangeiro no Brasil segundo os registros da Conta Capital do Balanço de pagamentos indica para 2023 uma entrada 3 vezes maior de capital até o mês de maio quando comparada com o mesmo período de 2022, uma das razões aliás para a queda do valor do dólar.
A valorização do Real frente às moedas estrangeiras é também um dos motivos do controle da inflação, contendo o preço dos combustíveis e de outros produtos que têm seus preços afetados pela cotação da moeda americana.
Este cenário favorável de início de governo é, portanto, um sinal de que o Brasil segue pujante em direção ao desenvolvimento? Não, infelizmente. Embora a conjuntura tenha melhorado em relação ao enfrentado nos últimos anos as melhoras não são suficientes para um crescimento sustentado para a nossa economia.
Uma das principais razões para a limitação do crescimento da renda no nosso país é ainda resultado de uma política em parte equivocada do próprio partido do governo atual que esteve no poder entre 2003 e 2014. O baixo investimento em educação de base. O Partido dos Trabalhadores investiu sim em educação muito acima do que o governo anterior e até mesmo que todos os governos da república. Tal investimento, no entanto, foi em grande parte nas universidades federais e no financiamento de cursos superiores, deixando de lado o bem público mais importante no que tange a geração de boas externalidades que é a boa educação de base. Desculpas podem existir ao se dizer que a lei prevê que a educação de base nos seus primeiros anos fique a cargo primordialmente dos munícipios e nos anos mais avançados a cargo dos estados, mas isto não impede a existência de repasses ou que o governo federal chamasse para si a responsabilidade por tarefa tão importante.
O que resulta disto é um cenário com universidades federais com números de vagas ociosas nunca antes vistos. Muito devido à formação insuficiente que parcela dos que acessam a universidade receberam. Mal preparados não conseguem avançar nos rigorosos cursos das universidades federais ou até mesmo sequer se interessam em acessar estas instituições. Tornam-se trabalhadores de baixa capacitação em comparação com os trabalhadores de outros países do mundo. Tornando assim a produtividade brasileira um dos principais entraves na atração de mais investimentos e na competitividade internacional de nossos produtos sobretudo industriais e de serviços.
Uma janela demográfica importante foi perdida nestes anos, enquanto o número de jovens no país crescia. Fase que vem se finalizando como mostram os resultados do atual Censo demográfico que indica o fim do processo de crescimento populacional e que estará associado ao seguido envelhecimento da população. Ou seja, perdemos a chance de formar bem os jovens que estariam na atividade enquanto parcela expressiva da nossa população envelhece. Esses trabalhadores se tivessem alta produtividade teriam bons salários capazes de ajudar no financiamento dos custos previdenciários e de saúde que devem aumentar nos próximos anos. Esta chance foi perdia e cobrará um preço alto para o nosso país nos próximos anos.
Finalizamos destacando que não somos, em medida alguma, contrários ao investimento em qualquer tipo de educação. Seja ela superior ou de base, mas apenas entendemos que a alocação para a educação superior foi exagerada em comparação a mais importante educação de base e isto nos tirou boas oportunidades.
Em um próximo episódio voltaremos a falar de educação como um desafio para a economia brasileira.
Abraço e até o nosso próximo painel de educação financeira!