Brasília – O abalo psicológico e os gastos necessários para manutenção do vício são dois elementos do consumo do crack que potencializam o flerte do usuário com as ações criminosas. A maior parte dos usuários são jovens de classes sociais mais baixas.
“O indivíduo se isola num processo de embrutecimento absurdo e desumanização que gera rompimentos familiares, de trabalho e de escolaridade”, diz o coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Segurança Pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Luis Sapori. “Isso gera um tipo de violência mais intensiva, consistente e perversa do que a cocaína e a maconha.”
O psiquiatra Félix Kessler, que realiza pesquisas sobre o consumo de crack no Rio Grande do Sul, confirma a relação preocupante entre o consumo de crack e a violência. “Os danos familiares, sociais e profissionais que essa droga causa, a violência que ela gera, levando às vezes o indivíduo para a criminalidade, preocupam muito. Os pacientes se tornam mais agressivos e, no desespero do uso da droga, temos visto meninos indo para criminalidade e meninas se prostituindo em troca da pedra”, relata Kessler.
O coordenador do Núcleo de Pesquisa em Criminalidade, Violência e Políticas Públicas de Segurança da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), José Luiz Ratton, acredita que o crack talvez seja a única droga disponível no mercado brasileiro que tenha relação direta com certos tipos de criminalidade.
“O problema da disponibilidade de armas junto com o crack, nas áreas pobres, é muito grave. Não é só o crime contra a propriedade, mas o crime contra a vida. A combinação destes elementos é explosiva”, ressalta Ratton.
A obsessão pelo consumo gerada pelo crack também preocupa policiais. “O usuário do crack faz o que for possível para comprar a droga. A droga domina o ser humano de uma forma que ele está pouco ligando se vai ser preso. Se não tiver uma repressão muito forte, repercute principalmente nos crimes contra o patrimônio”, diz o chefe da Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil do Distrito Federal, delegado João Emílio de Oliveira.
Indícios da relação direta entre o crescimento do consumo de crack e o aumento dos índices de criminalidade nas localidades motivaram pesquisadores a colocarem como prioridade o desenvolvimento de estudos que garantam diagnóstico preciso do problema.
“Quero fazer um grande estudo local e nacional para comprovar que o crescimento dos homicídios em várias regiões brasileiras não pode ser separado da entrada do crack nestas localidades”, afirma Sapori, da PUC Minas.
Ele acredita que uma combinação de ações repressivas e preventivas eficientes contra o comércio e o uso de crack pode levar a uma redução do nível de homicídios no Brasil. Mas, por ora, as estruturas públicas se mostram aquém do desafio, a começar pela ausência de informações empíricas consistentes.
“A polícia percebe o problema, mas ainda precisa compreender melhor o que se passa. Ainda sabemos pouco da relação direta do crack com a criminalidade. Os americanos já cuidaram disso nas décadas passadas. No caso brasileiro, é hora de fazer o mesmo, ou seja, estudar o problema do ponto de vista da saúde pública, da reinserção social e do tráfico”, alerta Sapori.
Fonte: Agência Brasil