Pesquisas indicam que níveis altos de LDL na infância estão associados a aterosclerose na fase adulta
Estudos apontam que níveis altos de LDL no organismo das crianças, mais conhecido como “colesterol ruim”, estão associados ao processo de deposição de cálcio nas artérias coronárias, que irrigam o coração, e ao aumento da espessura das artérias carótidas, que levam sangue ao cérebro. Esse processo que em última análise leva a lesão e obstrução das artérias é conhecido como aterosclerose.
Segundo Dr. Frederico G. Marchisotti, endocrinologista do Lavoisier Medicina Diagnóstica, nos últimos anos têm-se percebido que o processo de aterosclerose se inicia cedo, mesmo na infância, e avança progressivamente até culminar com um infarto ou acidente vascular cerebral na vida adulta. “Os eventos cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil e no mundo, superando inclusive o câncer”, comenta o especialista.
Uma pesquisa realizada no Estado da Louisiana, nos Estados Unidos, a partir da autópsia de adultos jovens que faleceram por causas acidentais, mostrou que 70% deles já apresentavam placas de aterosclerose em suas artérias. “Fatores genéticos estão implicados nesse processo, mas não menos importantes são os fatores ambientais como dieta e atividade física”, comenta Dr. Marchisotti.
Com base em dados tão alarmantes, a Academia Americana de Pediatria divulgou em julho deste ano uma orientação direcionada à classe médica que indica os melhores procedimentos para diagnosticar e tratar as crianças com níveis elevados de colesterol ruim. Essa ação ocorreu a partir da conscientização da importância da prevenção da aterosclerose desde a infância e fornece dicas sobre a possibilidade de instituição do tratamento medicamentoso em idade mais precoce (a partir de 8 anos) e a escolha das estatinas (as mesmas drogas usadas para adultos) como medicamento de primeira linha no tratamento farmacológico.
Diagnóstico e Tratamento
A primeira dosagem de colesterol é sugerida para crianças entre dois e 10 anos de idade. A Sociedade Americana de Endocrinologia indica a dosagem do perfil de colesterol para as crianças com:
1) Pais ou avós que sofreram cirurgia de bypass coronariano ou angioplastia antes dos 55 anos;
2) Histórico familiar de infarto agudo de miocárdio, angina, acidente vascular cerebral /periférico ou morte súbita antes dos 55 anos de idade;
3) Pais com colesterol total acima de 240 mg/dL ou algum tipo de dislipidemia;
4) Histórico familiar desconhecido e dois ou mais fatores de risco de doença coronariana, que incluem: obesidade, hipertensão, tabagismo, baixo HDL, sedentarismo e diabetes mellitus;
5) Nova recomendação: Obesidade (IMC>95º percentil) ou sobrepeso (IMC 85-94º percentil) independente do histórico familiar ou da presença de outros fatores de risco.
Concentrações adequadas para crianças e adolescentes*
Categoria Aceitável
Colesterol Total < 170
Colesterol LDL < 110
Colesterol HDL > 45
Triglicérides
0-9 years < 75
10-19 years < 90
*Fonte: NCEP – National Cholestesterol Education Program 1992
Dieta com reduzida quantidade de gordura total, gordura saturada (máximo 7% do total de calorias), ácidos graxos trans e colesterol (máximo 200mg/dia) são métodos recomendados para o tratamento do excesso de colesterol. “A dieta pode ser iniciada após seis meses de idade, desde que monitorada de perto. Existe um temor real que a restrição de gorduras antes dos dois anos de idade pode ser prejudicial, pois o cérebro e o sistema nervoso dependem de um adequado aporte de gordura para seu desenvolvimento; assim, uma dieta restritiva, quando realizada, deve ser rigorosamente supervisionada nesta fase do desenvolvimento”, explica o Dr. Marchisotti.
O tratamento farmacológico pode ser utilizado para baixar os valores significativamente elevados do colesterol em algumas crianças. Segundo a Associação Americana de Pediatria os medicamentos poderiam ser iniciados após oito anos de idade em ambos os sexos. A Sociedade Americana de Endocrinologia, contudo, é um pouco mais cautelosa e recomenda iniciar o tratamento com medicamentos somente após a primeira menstruação nas meninas e logo após o início da puberdade dos meninos. A entidade também indica a introdução de remédios para crianças que mesmo após as medidas dietéticas, apresentem colesterol LDL maior que 190mg/dL, somada à ausência ou desconhecimento de história familiar de doenças cardiovasculares ou quando o nível de LDL estiver acima de 160 mg/dL e a criança apresentar obesidade ou dois a mais fatores de risco de problemas no coração.
O tamanho do problema
Uma significativa proporção de crianças e adolescentes apresenta concentrações elevadas de colesterol ou triglicérides. Em pesquisa realizada nos EUA, estudiosos comprovaram que cerca de 10% dos adolescentes apresentavam colesterol total maior que 200mg/dL (nível considerado limítrofe para adultos). Outro estudo americano com crianças em torno de 9 e 10 anos, mostrou que aproximadamente 15% delas tinha colesterol elevado. Dados do serviço público de saúde dos EUA também alertam para 25% de crianças com colesterol elevado. “No Brasil, dois estudos (SP e RS) realizados em estudantes entre 6 e 14 anos, apresentaram que a prevalência de hipercolesterolemia foi ainda maior: em torno de 30%”, completa Dr. Frederico.
Fonte: Imagem Corporativa